Ney Barreto concedeu entrevista exclusiva ao Blog Fanáticos pelo Cesso contando os bastidores da derrocada do clube nas mãos do ex-gestor Bruno Carvalho, que deixou o Bonsuça com dívidas após não cumprir acordos com jogadores e funcionários, que acabaram sendo demitidos no início da competição.
"Fiquei um pouco triste e decepcionado por tudo que aconteceu. Enfrentei o Bonsucesso no ano passado. Foi o clube que tivemos jogos direto pelo acesso. Sabíamos da força do clube mesmo o America bem forte. Quando recebi o convite pelo (Luciano) Portela, fiquei muito feliz. Seria uma oportunidade de trabalhar em uma segunda equipe tradicional e com camisa além de ser uma divisão de acesso, mas as coisas acabaram não saindo como a gente esperava", disse.
Ney Barreto explicou qual foi o projeto apresentado pelo Bonsucesso e quais acordos acabaram não sendo cumpridos até a saída de toda a comissão técnica e jogadores às vésperas do aniversário de 107 da instituição.
"Tinham prometido as melhores condições de trabalho. Nos levaram para fazer a pré-temporada em Pinheiral, então, isso dava uma credibilidade porque sabíamos que era um local com estrutura grande. Inicialmente o planejamento foi bem feito. Conseguimos trazer jogadores importantes sem salários altos, mas que acreditavam naquela montagem de elenco. Era uma grande equipe, entretanto, acabou se deteriorando no meio do processo. Estávamos trabalhando para subir para a 1ª Divisão", afirmou antes de trazer um fato constrangedor já na Teixeira de Castro.
"Voltamos para o Rio de Janeiro, mas já tivemos problema na primeira atividade com a falta de água para hidratação dos jogadores. O treinamento começou atrasado por causa disso. Durante o trabalho, quando fui beber água, percebi que não tinha mais para ninguém. Tive que interromper o treino pelo meio porque não tinha como continuar o trabalho com um Sol forte e sem água. Ali começou a ter uma preocupação maior, mas seguíamos motivados. Quando se aproximou o primeiro mês de trabalho começamos a ficar atentos com os salários já que estavam faltando coisas. Tentamos contratar o Thiago Correa, mas o clube acabou não pagando a transferência e ele foi para o Serra Macaense. Tudo isso foi começando a criar um clima de apreensão. Disputamos quatro jogos. Dos oito pontos obtidos no Estadual, seis foram com a gente."
Ney Barreto explicou que toda a comissão técnica foi demitida e detalhou como foi comunicado que não permaneceria à frente do Bonsucesso.
"Em hora nenhuma eu afirmei que pedi pra sair. Fomos demitidos. Por lei, eu não poderia ser desligado. Eu estava operado (Ney sofreu um acidente em um dia de folga e precisou ser afastado temporariamente). Quando eu ia retornar, fui comunicado que não precisava mais. Na verdade, eu estava impossibilitado de voltar até o dia 2 de janeiro. Mesmo assim, eu iria voltar antes. Fui comunicado pelo supervisor no dia 11 de outubro, por volta de uma hora da tarde, que toda a comissão técnica estava fora dos planos. Sou apenas funcionário. Tive que aceitar, mas é bom que se diga que não recebemos 1 real durante os 45 dias que estivemos lá", frisou.
Longe dos holofotes da elite do futebol carioca, Ney Barreto trouxe a realidade de muitos clubes das divisões inferiores e revelou que o acordo com o Bonsucesso foi 'de boca' com a promessa de colocar as cláusulas no papel durante a disputa da Série B1.
"Tudo foi verbal. Foi dito que logo após iriam ver o contrato. Não assinamos nada, mas temos as publicações do próprio clube além das súmulas dos jogos que comprovam que estávamos empregados. Até na nossa dispensa, isso foi divulgado pela imprensa. Não sei a situação dos jogadores, mas como eles precisam dar entrada na Federação, acredito que seja diferente", disse o ex-treinador que cobrou uma mudança de norma na FERJ.
"É uma falha. Faço parte de um grupo de treinadores, conversamos muito sobre isso. Depois da nossa saída, o clube teve outros quatro técnicos. Não sei se algum deles recebeu, mas eu não recebi nada. Isso também deveria acabar. Para contratar qualquer outro, deveria chegar ao menos em um acordo com aquele que saiu. Isso precisa partir de Sindicatos. Não pode ser isolado. A gente trabalha e quer receber."
Apesar da gestão do futebol pertencer a Bruno Carvalho, dono da H Carvalho, Ney Barreto afirmou que foi contratado pelo Bonsucesso.
"Não conheci o dono da empresa. Fui contratado pelo clube. Fui convidado pelo clube", disse antes de comentar o fatídico WO que o Bonsucesso sofreu logo após a sua saída.
"Eu saí no domingo e tive várias manifestações dos atletas. Eles estavam insatisfeitos com os salários atrasados. O responsável pela H Carvalho chegou a nos comunicar que tudo seria colocado em dia, mas eles decidiram que não entrariam em campo. Não foi solidariedade a mim. Eles não atuaram porque não receberam. Estava indo de mal a pior. É fácil dizer que os jogadores não poderiam fazer isso. O clube pode ficar sem pagar? Os profissionais não podem tomar atitude? Não me pareceu nada orquestrado antes. No jogo seguinte, que corria o risco de um novo WO e sanções, alguns jogadores foram lá e atuaram. Não sei que tipo de acordo foi feito, mas nesse jogo (contra o Artsul), eles não entraram em campo porque não tinham recebido."
O ex-treinador do clube afirmou que nunca existiu contato com o presidente administrativo Ary Amâncio durante o imbróglio financeiro e citou outros dirigentes como responsáveis pela comunicação interna no rubro-anil.
"O nosso interlocutor direto era o Luciano Portela, diretor de futebol, que também foi demitido junto. Nunca falei com o Ary (Amâncio). Falei com o Marcelo Salgado apenas duas vezes. Em uma dessas conversas eu disse que estava preocupado com essa questão salarial. Ele afirmou: 'estamos dando um jeito aqui para acertar tudo'. Foram palavras dele. Quem também aparecia lá era o Nilton Bittar, vice-presidente. Ele dizia que a situação estava difícil. Sempre foi esse papo. Mas, oficialmente ninguém explicou a situação. Eram mais reclamações do que satisfações. O torcedor precisa entender que os jogadores e os membros da comissão técnica não são mercenários. Não existe ninguém que trabalha no futebol sem se dedicar. É preciso dar nome aos bois."
Livre no mercado, Ney Barreto fez projeções para a próxima temporada, mas não descarta um retorno futuro ao Bonsucesso.
"Estou estudando. É um momento complicado no final de ano. Estou fazendo cursos e buscando novos conhecimentos além de lives com diversos profissionais. Quero voltar a trabalhar. Estou esperando um convite. Quem sabe no futuro voltar ao Bonsucesso. Como a coisa aconteceu não foi legal. Esperava ajudar o clube numa retomada. Não posso dizer que fiquei devendo porque o trabalho não aconteceu. Mas, fiquei triste e isso me incomoda. Tínhamos potencial em um clube de tradição. Estou vendo o que pode acontecer."
Esperando novos desafios, o técnico comentou se aprova a nova formatação do Campeonato Carioca que terá 12 clubes em cada divisão.
"Quando recebi o calendário do próximo ano, vi que é uma coisa que poderia ser melhor ajustada. Procuramos o Sindicato dos Atletas já que é um interesse em comum e debatemos se algumas divisões poderiam correr em paralelo para evitar que o jogador saia de um campeonato e dispute outro. Esperamos ter uma conversa também no Sindicato dos Treinadores para levar sugestões à FERJ. Quem sabe a C seja sub-21 e uma melhor distribuição ao longo do ano", finalizou.