08/12/2020

FERJ CONSIDERA REABRIR PROCESSO DE RECONHECIMENTO DO TÍTULO DO CESSO NA LIGA SUBURBANA DE 1919

Revista trazia o time campeão do Bonsucesso em 1919
Foto: Reprodução Revista Excelsior

Já imaginou gritar novamente 'É campeão' pouco mais de 100 anos depois? O Bonsucesso aguarda até hoje a solicitação na FFERJ para reconhecer o título da 1ª Divisão da Liga Suburbana de Futebol de 1919. Para entender o contexto é necessário saber o que a história representa.

A competição que abrangia clubes de zonas menos favorecidas do Rio de Janeiro e contava com equipes como Bonsucesso F.C, Engenho de Dentro A.C, Dois de Junho F.C, Confiança A.C, Cascadura F.C, Mavillis F.C, Dramático de Realengo e C. A. Central acontecia paralelamente a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, que possuía os times que mais tarde seriam considerados grandes do Rio de Janeiro.

Perante um esporte ainda elitista, a LSF seguia na contramão e abraçava os jogadores menos favorecidos no futebol desde 1916. O Bonsucesso chegou à elite da Liga após conquistar a Segunda Divisão em 1918. No ano seguinte, em uma edição extremamente politizada e marcada pela desistência de algumas equipes, como o Engenho de Dentro (era o tricampeão) que perdeu jogadores para o Vasco da Gama, o Rubro-Anil da Leopoldina 'passou o trator' para faturar o caneco. Foram oito vitórias, cinco empates e apenas duas derrotas na campanha.

O 'scratch' do Bonsucesso tinha: Mingote; Alamiro (um dos fundadores do clube) e Sinhô; Mathias, Bacharel e D. Julia; Flávio, Caballero, Doca, Martins e Basilio.

Historiador do clube, George Joaquim Machado já trouxe informações sobre a competição no Blog Fanáticos pelo Cesso através da coluna 'Resgatando a História' em 2010 (confira no link). Em contato novamente com a página, o torcedor demonstra tristeza com a falta de resposta da FERJ.

"
Publiquei matérias sobre o cenário preconceituoso do futebol carioca, da conquista do Bonsucesso e a crítica contra a Federação de Futebol do Rio de Janeiro por não reconhecer nosso clube em sua galeria de campeões da primeira divisão. Em 2010, comecei essa campanha pelo reconhecimento de nosso título e em 2011, o presidente José Simões abraçou a causa. O presidente Rubens Lopes nos atendeu gentilmente para receber o ofício do Bonsucesso na sede da entidade. Era um requerimento para que a Federação aceitasse o titulo suburbano como título carioca", frisou George Joaquim que complementou.

"A Federação tinha um link dentro de seu site que organizava por ano um quadro de campeões. E dentro desse quadro havia até o título 'fantasma' de 1912 do Botafogo. Então, se a Federação reconhecia títulos fantasmas de outras equipes, deveria também reconhecer os títulos suburbanos. Rubinho aceitou o ofício e prometeu que seria criada uma comissão para estudar o nosso pedido. Depois desse encontro com o presidente da FERJ, nunca mais se falou no assunto", garantiu o elaborador do requerimento que também é benemérito do clube.

Em entrevista ao jornalista Silvio Barsetti, do Estado de São Paulo, em 2011, o ex-presidente José Simões afirmou que tentaria resgatar a história legítima do clube, documentada em arquivos da época já que o próprio Bonsucesso não tinha subsídios para sustentar o pedido.

"Os troféus estão espalhados, a história, fragmentada. Quero recuperar a memória do clube", disse o ex-dirigente.

Em contato recente, Zeca Simões afirmou que a FERJ até hoje não se posicionou, mas cobra a legitimidade do título estadual.

"Lamentavelmente a FERJ não se posicionou, apesar de nos reunirmos à época com o presidente Rubens Lopes pedindo o reconhecimento do título."

Na entrevista ao Estado de São Paulo, Sassá, meio-campo que carregou a braçadeira de capitão do Rubro-Anil, ficou empolgado com a possibilidade de reconhecimento do título estadual de 1919.

"Já pensou? Se (o título) for confirmado, isso vai nos valorizar. Estaríamos jogando num clube campeão carioca."

Tivemos acesso ao documento do Bonsucesso que foi entregue à FERJ em 25 de abril de 2011. Confira abaixo:










Procurada, a FERJ encaminhou a seguinte nota oficial: "A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro reabrirá o processo de postulação do título de 1919, feito pelo Bonsucesso Futebol Clube, mediante a atualização dos documentos pertinentes."

A entidade só não explicou por qual motivo não houve resposta ao longo de nove anos. Caberá ao novo presidente do clube lutar pelo direito do Bonsucesso. O jornalista Silvio Barsetti recolheu notícias da época para comprovar a veracidade do torneio e a importância dada pelos veículos de comunicação. Veja abaixo:


"No espaçoso e bem tratado ground do primeiro (Cascadura), encontrar-se-ão no próximo domingo, 5 do corrente, em disputa do campeonato da 1ª Divisão da Liga Suburbana de Football, as valorosas equipes dos disciplinados clubes (Cascadura e Bonsucesso)..."

Gazeta de Notícias  (03/10/1919)


"Realizou-se no domingo... o jogo de campeonato entre os dois clubes (Dois de Junho x Bonsucesso)... O aspecto da bella praça de sports do Riachuelo era deslumbrante; pois as archibancadas estavam apinhadas de centenas de apreciadores do sport bretão, que applaudiam a cada instante os passes emocionantes dos litigantes... Terminou assim a pugna com um empate de 2 x 2."

Correio da Manhã  (11/11/1919)


"Finalizou domingo último o campeonato da Liga Suburbana de Football com a victoria do Bonsucesso, que obteve 21 pontos, tendo derrotado os clubes Modesto, Central, Cascadura, Dois de Junho, Dramático e Mavilles e empatado com o Riachuelo e Confiança e perdido para o Engenho de Dentro no 1.º turno (...). Assim, na próxima sessão do conselho dessa entidade suburbana será proclamado campeão da 1.ª divisão o Bonsucesso FC."

Jornal do Brasil (12/11/1919)


Fonte: Estado de São Paulo

07/12/2020

JUSTIÇA CONVOCA DIRETORIA PARA ESCLARECER PRORROGAÇÃO DE MANDATO E GESTÃO TEMERÁRIA



As eleições do Bonsucesso podem sofrer uma reviravolta na semana decisiva. Sócios entraram com uma ação na 10ª vara cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro pedindo a inelegibilidade da atual direção administrativa, alegando gestão temerária por supostas irregularidades à frente do clube, incluindo a prorrogação indevida do mandato. O juiz titular Ricardo Cyfer convocou o presidente Ary Amâncio e o vice-geral, Nilton Bittar, em um prazo de 72h, para se manifestarem antes da decisão.

Em contato, o advogado Marcelo Santiago afirmou que o parecer judicial será fundamental para esclarecer o atual cenário eleitoral do Bonsucesso.

"Apresentamos todas as provas da má gestão ao juiz, ele deu o prazo para manifestação, é algo normal em uma ação desse porte e agora é aguardar a decisão. Não foi um processo fácil para montar. A meu ver, a decisão inicial é bem clara. O desembargador diz que o mandato terminaria no dia 3 de setembro de 2020. Dali para frente, não tem ninguém no mandato, incluindo o senhor Brazelino (Vieira) que era presidente da Assembleia Geral. Ele não tem esse poder assim como os senhores Ary (Amâncio) e Nilton (Bittar)", afirmou.

Marcelo Santiago afirmou que na inicial, os sócios pediram a participação do Ministério Público através do GAEDEST (Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor) para analisar o processo.

"Pedimos a participação do Ministério Público para analisar o procedimento porque há indícios de gestão temerária, que pode gerar sanções penais. O edital de convocação das eleições no dia 12 não teve estrutura amparada por lei para dar validade a ela. Não houve edital para lançamento de candidatura e quem fez a convocação participa da chapa da situação. Isso fere o estatuto do Bonsucesso. Saiu uma decisão recente pelo Brazelino Vieira que cassou a chapa de oposição. Como pode isso? Teria que ter uma junta para organizar às eleições. Acredito que tudo será anulado", concluiu.

O Blog Fanáticos pelo Cesso teve acesso aos autos do processo e os sócios alegam que 'a entrada da sede social, antes considerada umas das mais belas do Rio de Janeiro, hoje está irreconhecível, chegando ao cúmulo de seu escudo estar rasgado e seu hall de entrada com piso de mármore ser usado de estacionamento pelos atuais gestores.' A ação também aponta para a perda do ginásio em leilão judicial que é considerado uma 'perda gigantesca do patrimônio'.

A ação aponta para movimentações judiciais dos réus como o pagamento obrigatório "homologado no processo nº 0072734-82.2016.8.19.0001 em curso na 27ª Vara Cível da Comarca da Capital do Rio de Janeiro onde foi fechado uma transação no valor R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), ou seja, assumindo valores vultosos sem qualquer comprovação de que esse valor realmente for a investido no clube Réu."

O processo ainda aponta que a Chapa Azul, de Jorge Ribeiro Marques, seria a única legalizada para concorrer ao pleito já que foi inscrita em 1º de agosto de 2020. A ação ainda aponta vacância dos cargos após descumprimento de ordem judicial. 

Os sócios pediam inicialmente novas eleições em 10 de novembro com a divulgação da lista de associados aptos a votar além de condenar os réus ao pagamento de custas e honorários advocatícios.

Nilton Bittar preferiu não se pronunciar antes de ficar a par do teor do processo. Não conseguimos contato com Ary Amâncio.

05/12/2020

COVID-19: MORRE PINTINHO, PRESIDENTE DO COIRMÃO OLARIA


O Blog Fanáticos pelo Cesso se solidariza com os familiares e amigos do presidente do Olaria, Augusto Pinto Monteiro, o Pintinho, de 72 anos, que faleceu vítima da COVID-19. Ele estava internado na Clínica Balbino há algumas semanas. Além do clube da Bariri, o dirigente também tinha carinho pelo Flamengo.

Pintinho estava no seu sétimo mandato. O presidente iniciou sua trajetória no Azulão em 1955. A morte de Pintinho mexeu com o mundo do futebol. Romário e o técnico Marcelo Cabo além de clubes do Rio de Janeiro prestaram homenagens. O Olaria emitiu nota oficial assim como a FERJ.  


"Com extremo pesar, a Federação de Futebol do Estado do Rio comunica o falecimento do presidente do Olaria Atlético Clube, Sr. Augusto Pinto Monteiro, mais conhecido como Pintinho, nessa sexta-feira.

A FERJ se solidariza na dor dos familiares e amigos nesse momento de extrema tristeza para o futebol do Rio de Janeiro."

02/12/2020

ASSEMBLEIA GERAL CONSIDERA CHAPA DE OPOSIÇÃO INELEGÍVEL A 10 DIAS DAS ELEIÇÕES NO BONSUCESSO

Estádio Leônidas da Silva
Foto: Jornal do Brasil

Com consentimento dos candidatos, as eleições presidenciais do Bonsucesso ocorrerão na próxima semana, dia 12, das 9h às 16h, e os bastidores estão agitados após o rebaixamento do clube para a 4ª Divisão do Campeonato Carioca.

Nesta quarta-feira, dia 2, representantes das duas chapas estiveram na sede do clube pela manhã para uma reunião após convocação feita ontem (1) pelo presidente da Assembleia Geral, Brazelino Vieira, que solicitou a presença dos postulantes a diretoria administrativa para a abertura de um envelope.

O teor do documento gerou uma série de especulações na Teixeira de Castro, mas por fim, o resultado era a inelegibilidade da Chapa Azul, de Jorge Ribeiro Marques e André Veras, pelo descumprimento de regras no Estatuto do clube. O Blog Fanáticos pelo Cesso teve acesso ao ofício que diz: 

“BRAZELINO VIEIRA ANTUNES, Presidente da Assembleia Geral, do Bonsucesso Futebol Clube, vem através do presente comunicar ao Sr. Jorge Ribeiro Marques, que foi indeferida a participação de sua chapa, em face de ausência da 3º Distribuidor Cível assim como dos vencimentos das certidões.

Tal motivo fere por completo os termos do artigo 93, inciso “G” do nosso estatuto, por conseguinte tornando a Chapa Azul inelegível, nos termos citados

1º Distribuidor Cível 08/08/2020 (início)

1º Distribuidor Criminal 08/08/2020 (inicio)

2º Distribuidor Cível 06/08/2020 (inicio)

2º Distribuidor Criminal 06/08/2020 (inicio)

3º Distribuidor Cível não apresentado

3º Distribuidor Criminal 17/08/2020 (inicio)

4º Distribuidor Cível 07/08/2020 (inicio)

4º Distribuidor Criminal 07/08/2020 (inicio)

1º Ofício interdição e tutela sim

2º Ofício de interdição e tutela sim

Obs: Certidões tem validade de 90 dias, conforme a Consolidação de Normas da Corregedoria do Estado do Rio de Janeiro"

O documentado é assinado por Brazelino Vieira em 23 de novembro de 2020 e só foi aberto pouco mais de uma semana depois, ou seja, a 10 dias das eleições.

O artigo 93 do Estatuto do Bonsucesso citado no ofício informa quais as condições para que alguém concorra ao pleito:

São condições para ser Presidente do Bonsucesso Futebol Clube:

a)      Ser brasileiro;
b)      Ter mais de 30 (trinta) anos de idade;
c)      Ter mais de 10 (dez) anos de vida associativa ininterrupta;
d)      Ser grande Benemérito, Benemérito Associado Proprietário ou Remido;
e)      Apresentar planos de metas, objetivos prioritários, modo de captação de recursos;
f)       Apresentar declarações de bens, 30 (trinta) dias antes das eleições junto com a chapa a ser registrada;
g)      Apresentar certidões negativas dos distribuidores civis, criminais, (sem sentença transitada em julgado) interdições e tutelas e da Fazenda Pública Federal e Estadual.

Em contato com o Blog Fanáticos pelo Cesso, o candidato da Chapa Azul, Jorge Ribeiro Marques, afirmou que irá recorrer para participar das eleições:

“A reunião foi para devolver a análise das chapas. Recebi um ofício do Brazelino (Vieira) comunicando que nossa chapa estava desclassificada. Estamos tomando providências ao longo da semana para participarmos do pleito. Apresentei as certidões para as eleições em setembro”, afirmou.

A data das eleições causa um verdadeiro conflito de interpretações no Bonsucesso. Conselheiros alegam que pela ordem judicial, o mandato atual do presidente Ary Amâncio deveria ser válido por três anos a partir do escrutínio em 3 de setembro de 2017.


A Assembleia Geral, entretanto, se apega ao artigo 74-A do Estatuto do Bonsucesso, que informa:

“A Assembleia Geral deve convocar eleições de três em três anos, na primeira quinzena de dezembro, para eleger os presidentes e vice-presidentes, membros efetivos e suplentes dos poderes do clube. Mas, como já informamos, as últimas eleições foram judicializadas e o mandato teria validade somente até o dia 3 de setembro. Portanto, a convocação feita pela Assembleia Geral descumpre a ordem judicial.” 

O regimento do Bonsucesso ainda diz que “a Assembleia Geral deve convocar novas eleições para preencher vagas do Conselho Deliberativo, quando seu mínimo atingir o total de 20 conselheiros  e os cargos de presidente e vice-presidente dos poderes do clube. Ou em qualquer tempo  para preencher vagas ocorridas com vacância dos membros eleitos dos poderes do clube. Ou em qualquer tempo para apreciar matéria referente aos incisos II (alteração do estatuto) e IV (destituir a diretoria administrativa) do artigo anterior (73).”


Mediante a alegação da Assembleia Geral, a única chapa inscrita para concorrer às eleições é a encabeçada por Nilton Bittar e Roberto Pinto de Oliveira. Brazelino Vieira concorre para ser novamente presidente da Assembleia Geral pela Chapa Verde.

27/11/2020

EXCLUSIVO: NEY BARRETO CONTA BASTIDORES DA SAÍDA DO BONSUCESSO: "NÃO RECEBI 1 REAL"

Ney Barreto comandou o Bonsucesso em quatro jogos na B1
Fotos: João Carlos Gomes/Divulgação/Bonsucesso

Ao longo da Série B1, o Bonsucesso teve quatro treinadores. A temporada era audaciosa após o título da Copa Rio em 2019. Ney Barreto, de 44 anos, ex-técnico do America, foi chamado para liderar o projeto que visava o retorno à elite do futebol carioca após o rebaixamento em 2018. Porém, o trabalho foi interrompido depois de sérios problemas financeiros e administrativos enfrentados ao longo de 45 dias. A comissão técnica esteve à frente do time em apenas quatro rodadas da Taça Santos Dumont e somou seis dos oito pontos do Rubro-Anil durante todo o Estadual.

Ney Barreto concedeu entrevista exclusiva ao Blog Fanáticos pelo Cesso contando os bastidores da derrocada do clube nas mãos do ex-gestor Bruno Carvalho, que deixou o Bonsuça com dívidas após não cumprir acordos com jogadores e funcionários, que acabaram sendo demitidos no início da competição.

"Fiquei um pouco triste e decepcionado por tudo que aconteceu. Enfrentei o Bonsucesso no ano passado. Foi o clube que tivemos jogos direto pelo acesso. Sabíamos da força do clube mesmo o America bem forte. Quando recebi o convite pelo (Luciano) Portela, fiquei muito feliz. Seria uma oportunidade de trabalhar em uma segunda equipe tradicional e com camisa além de ser uma divisão de acesso, mas as coisas acabaram não saindo como a gente esperava", disse.

Ney Barreto explicou qual foi o projeto apresentado pelo Bonsucesso e quais acordos acabaram não sendo cumpridos até a saída de toda a comissão técnica e jogadores às vésperas do aniversário de 107 da instituição.

"Tinham prometido as melhores condições de trabalho. Nos levaram para fazer a pré-temporada em Pinheiral, então, isso dava uma credibilidade porque sabíamos que era um local com estrutura grande. Inicialmente o planejamento foi bem feito. Conseguimos trazer jogadores importantes sem salários altos, mas que acreditavam naquela montagem de elenco. Era uma grande equipe, entretanto, acabou se deteriorando no meio do processo. Estávamos trabalhando para subir para a 1ª Divisão", afirmou antes de trazer um fato constrangedor já na Teixeira de Castro.

"Voltamos para o Rio de Janeiro, mas já tivemos problema na primeira atividade com a falta de água para hidratação dos jogadores. O treinamento começou atrasado por causa disso. Durante o trabalho, quando fui beber água, percebi que não tinha mais para ninguém. Tive que interromper o treino pelo meio porque não tinha como continuar o trabalho com um Sol forte e sem água. Ali começou a ter uma preocupação maior, mas seguíamos motivados. Quando se aproximou o primeiro mês de trabalho começamos a ficar atentos com os salários já que estavam faltando coisas. Tentamos contratar o Thiago Correa, mas o clube acabou não pagando a transferência e ele foi para o Serra Macaense. Tudo isso foi começando a criar um clima de apreensão. Disputamos quatro jogos. Dos oito pontos obtidos no Estadual, seis foram com a gente."

Ney Barreto explicou que toda a comissão técnica foi demitida e detalhou como foi comunicado que não permaneceria à frente do Bonsucesso.

"Em hora nenhuma eu afirmei que pedi pra sair. Fomos demitidos. Por lei, eu não poderia ser desligado. Eu estava operado (Ney sofreu um acidente em um dia de folga e precisou ser afastado temporariamente). Quando eu ia retornar, fui comunicado que não precisava mais. Na verdade, eu estava impossibilitado de voltar até o dia 2 de janeiro. Mesmo assim, eu iria voltar antes. Fui comunicado pelo supervisor no dia 11 de outubro, por volta de uma hora da tarde, que toda a comissão técnica estava fora dos planos. Sou apenas funcionário. Tive que aceitar, mas é bom que se diga que não recebemos 1 real durante os 45 dias que estivemos lá", frisou.

Longe dos holofotes da elite do futebol carioca, Ney Barreto trouxe a realidade de muitos clubes das divisões inferiores e revelou que o acordo com o Bonsucesso foi 'de boca' com a promessa de colocar as cláusulas no papel durante a disputa da Série B1.

"Tudo foi verbal. Foi dito que logo após iriam ver o contrato. Não assinamos nada, mas temos as publicações do próprio clube além das súmulas dos jogos que comprovam que estávamos empregados. Até na nossa dispensa, isso foi divulgado pela imprensa. Não sei a situação dos jogadores, mas como eles precisam dar entrada na Federação, acredito que seja diferente", disse o ex-treinador que cobrou uma mudança de norma na FERJ.

"É uma falha. Faço parte de um grupo de treinadores, conversamos muito sobre isso. Depois da nossa saída, o clube teve outros quatro técnicos. Não sei se algum deles recebeu, mas eu não recebi nada. Isso também deveria acabar. Para contratar qualquer outro, deveria chegar ao menos em um acordo com aquele que saiu. Isso precisa partir de Sindicatos. Não pode ser isolado. A gente trabalha e quer receber."

Apesar da gestão do futebol pertencer a Bruno Carvalho, dono da H Carvalho, Ney Barreto afirmou que foi contratado pelo Bonsucesso.

"Não conheci o dono da empresa. Fui contratado pelo clube. Fui convidado pelo clube", disse antes de comentar o fatídico WO que o Bonsucesso sofreu logo após a sua saída.

"Eu saí no domingo e tive várias manifestações dos atletas. Eles estavam insatisfeitos com os salários atrasados. O responsável pela H Carvalho chegou a nos comunicar que tudo seria colocado em dia, mas eles decidiram que não entrariam em campo. Não foi solidariedade a mim. Eles não atuaram porque não receberam. Estava indo de mal a pior. É fácil dizer que os jogadores não poderiam fazer isso. O clube pode ficar sem pagar? Os profissionais não podem tomar atitude? Não me pareceu nada orquestrado antes. No jogo seguinte, que corria o risco de um novo WO e sanções, alguns jogadores foram lá e atuaram. Não sei que tipo de acordo foi feito, mas nesse jogo (contra o Artsul), eles não entraram em campo porque não tinham recebido."

O ex-treinador do clube afirmou que nunca existiu contato com o presidente administrativo Ary Amâncio durante o imbróglio financeiro e citou outros dirigentes como responsáveis pela comunicação interna no rubro-anil.

"O nosso interlocutor direto era o Luciano Portela, diretor de futebol, que também foi demitido junto. Nunca falei com o Ary (Amâncio). Falei com o Marcelo Salgado apenas duas vezes. Em uma dessas conversas eu disse que estava preocupado com essa questão salarial. Ele afirmou: 'estamos dando um jeito aqui para acertar tudo'. Foram palavras dele. Quem também aparecia lá era o Nilton Bittar, vice-presidente. Ele dizia que a situação estava difícil. Sempre foi esse papo. Mas, oficialmente ninguém explicou a situação. Eram mais reclamações do que satisfações. O torcedor precisa entender que os jogadores e os membros da comissão técnica não são mercenários. Não existe ninguém que trabalha no futebol sem se dedicar. É preciso dar nome aos bois."

Livre no mercado, Ney Barreto fez projeções para a próxima temporada, mas não descarta um retorno futuro ao Bonsucesso.

"Estou estudando. É um momento complicado no final de ano. Estou fazendo cursos e buscando novos conhecimentos além de lives com diversos profissionais. Quero voltar a trabalhar. Estou esperando um convite. Quem sabe no futuro voltar ao Bonsucesso. Como a coisa aconteceu não foi legal. Esperava ajudar o clube numa retomada. Não posso dizer que fiquei devendo porque o trabalho não aconteceu. Mas, fiquei triste e isso me incomoda. Tínhamos potencial em um clube de tradição. Estou vendo o que pode acontecer."

Esperando novos desafios, o técnico comentou se aprova a nova formatação do Campeonato Carioca que terá 12 clubes em cada divisão.

"Quando recebi o calendário do próximo ano, vi que é uma coisa que poderia ser melhor ajustada. Procuramos o Sindicato dos Atletas já que é um interesse em comum e debatemos se algumas divisões poderiam correr em paralelo para evitar que o jogador saia de um campeonato e dispute outro. Esperamos ter uma conversa também no Sindicato dos Treinadores para levar sugestões à FERJ. Quem sabe a C seja sub-21 e uma melhor distribuição ao longo do ano", finalizou.