07/03/2022

CONHEÇA OS CLÁSSICOS ESQUECIDOS NA HISTÓRIA DO CARIOCÃO


Foto: Reprodução/O Globo


Ainda que, nos últimos anos, graças às quedas do Vasco para a Série B, os clássicos entre o cruz-maltino e o Flamengo — que acontece hoje, às 16h, no Nilton Santos — sejam menos frequentes, não dá para dizer que eles correm risco no Carioca. Confrontos entre os quatro grandes clubes do Rio ainda são o ápice de um combalido Estadual, e mora na rivalidade desses duelos o que resta de charme de um torneio com mais de 100 anos. Confrontos que têm nome, o “Clássico dos Milhões”, para a partida de hoje; ou o famigerado Fla-Flu, entre outros, são o exercício de uma rivalidade local que se mantém.

Há, porém, outras histórias para contar, algumas em extinção. Nos seus 115 anos, o Carioca formou rivalidades locais carregadas de identidade, mas que, com o tempo, se acalmaram ou apequenaram, seja pela crise do torneio ou de alguns clubes em um futebol cada dia mais desigual financeiramente. São confrontos que hoje clamam por mais capítulos, ainda que nem tão gloriosos assim. O maior exemplo é o “Clássico Bisavô".

O nome do confronto entre Bangu e América, um dos clássicos esquecidos do Rio, é sugestivo. Se Botafogo e Fluminense fazem o “Clássico Vovô” e tiram onda de antiguidade — o primeiro jogo foi em outubro de 1905 — os dois times se enfrentaram dois meses antes, em agosto daquele ano, sendo, portanto, o mais antigo entre os times em atividade do Rio. Há de se respeitar os mais velhos.

— A rivalidade com o Bangu era maior que a com o Botafogo até a década de 1960 — relata o jornalista José Trajano, torcedor do America, relembrando derrotas doídas para o rival no vice carioca em 1950 e no título estadual de 1960. — Era uma coisa muito forte na década de 1950.

DO COMEÇO DO SÉCULO

Se não dos “milhões”, Bangu e America reuniam, quase sempre, cerca de 30 mil torcedores no Maracanã quando jogavam nessa época. Público que só se repetiu, e bateu o recorde do clássico (mais de 38 mil presentes), em 1983, na última boa era de dois clubes que caíram e subiram de patamar em épocas parecidas.

— Hoje a rivalidade é só um retrato na parede. Ficou na memória, não tem mais. Se bem que teve briga de torcida nas últimas vezes — relembra Trajano, se referindo ao confronto de 2014, em Mesquita, que acabou com confronto entre organizadas. Em 2016, no reencontro, a PM evitou uma revanche — últimos capítulos lamentáveis para um clássico de tanta história.

Fora da elite do Estadual desde então, o time da Tijuca não enfrenta um grande também desde 2016, incluindo o Vasco, com quem ganhou em 1937 o bonito nome de “Clássico da Paz”, porque foram responsáveis naquele ano pela pacificação da guerra política entre as ligas que dividiam o futebol e o Estadual em dois.

Os americanos esperançosos, se ainda existem, podem se fiar no “Clássico dos Ingleses”, outro esquecido carioca, que voltou a ser disputado — provavelmente pela última vez — 92 anos após o último confronto. O duelo entre Rio Cricket (de Niterói) e Paissandu (do Rio) fez parte de uma rivalidade no futebol e no críquete no início do século XX.

Para além do antagonismo entre os clubes dos dois lados da Baía de Guanabara, ambos disputavam o título de melhor entre os clubes fundados por ingleses no Rio. Como o futebol do Paissandu (campeão carioca de 1912) acabou em 1914, e o Rio Cricket nunca profissionalizou seu departamento, o clássico, disputado pela primeira vez em 1901 (antes do “Vovô” e do “Bisavô”) tinha ficado na História. Por ser considerada a primeira partida de futebol realizada no Rio, ressuscitou: em 2006, na comemoração de 105 anos do futebol carioca, um novo confronto foi organizado em Niterói, usando uniformes da época. Com a vitória fora de casa por 2 a 1, os torcedores do Paissandu podem zoar os rivais para sempre, sem chance de revanche.
Rivalidades locais

Para além da Zona Sul, o futebol carioca viu rivalidades crescerem no subúrbio. Com o ápice no começo dos anos 1980, o “Clássico Rural” opõe os dois maiores da Zona Oeste, que levam o nome dos seus bairros, Bangu e Campo Grande. Antes da urbanização acelerada, a região era conhecida como Zona Rural.

Os grandes duelos de 40 anos atrás contrastam com o atual momento do clássico, que completa 60 anos e não é disputado desde 1995. De lá para cá, o Campo Grande chegou a parar suas atividades no futebol. Hoje, disputa a terceira divisão do estadual, vencida ano passado pelo Olaria, outro tradicional do subúrbio que tem saudade de um clássico para chamar de seu.

— A fundação do Olaria foi para enfrentar o Bonsucesso. A rivalidade foi muito forte até os anos 1950, com trocas de acusações e brigas. Mas isso arrefeceu — conta Pedro Paulo Vital, historiador do clube da Rua Bariri, sobre o “Clássico Leopoldinense”, que este ano completa uma década sem ser disputado na elite estadual. Para ele, a falta de confrontos acabou aproximando os dois.

— Hoje, eles são mais vizinhos amigos do que rivais. Tinha tudo para ter uma rivalidade tipo Ponte Preta x Guarani (o “Derby Campineiro”), um “Goyta-Cano” (Goytacaz x Americano, em Campos) — conta o historiador. — A má fase de um não agrada o outro. O Olaria agora está na segunda divisão. O Bonsucesso, na quarta. A Leopoldina merecia muito mais. Falta apoio, investimento, patrocínio. Dois clubes centenários, de tradição. A graça de tudo isso é ter o jogo, né? Não adianta ficar só relembrando os jogos antigos e não ter novos confrontos.

Torcida na arquibancada do Estádio Proletário, para Bangu e Campo Grande, em 1967
Foto: Agência O Globo


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