20/05/2010

CRÔNICA EXTRAORDINÁRIA

Um menino e o Bonsucesso (Carlos Alberto de Pinho Junior)

 

Lembro-me das tardes de sábado em que , quando menino , arrastava o meu irmão para acompanhar os jogos do Bonsucesso . Vestia a camisa e , com a alegria de um céu azul , soltava do lotação em frente ao estádio Leônidas da Silva , nome de um grande ídolo do clube . De quem , por sinal , não me cansava de falar , mesmo sem ter visto um só lance que tenha feito , pois era de uma época em que nem a minha saudosa avó sonharia ter nascido .


No caminho até o estádio , as pessoas , vendo-me trajado com o manto sagrado , não acreditavam que uma criança que tinha tantas opções – impostas , por vezes , pelos pais ou pela mídia – fosse escolher torcer pelo “Leão da Leopoldina” . Meu pai , ainda hoje , me pergunta : “Como é possível”? Nem sei se a melhor palavra seria “escolher” . Não escolhemos amar alguém ou algo . Para os cientistas , seria o resultado de reações bioquímicas . Para os poetas , é uma predestinação divina. 


Dentro do eterno “Caldeirão” era uma festa . Fogos , aplausos , conversas , descontração . A marcação do surdo acompanhava o canto da torcida enquanto os ídolos da minha infância se preparavam para pisar no altar da esperança . Chegávamos à arquibancada , atrás de uma das metas , onde costumavam ficar amigos que compartilhavam , de longa data , o amor e a admiração pelo Cesso , como foi carinhosamente apelidado . Algumas daquelas pessoas , acabei conhecendo por lá . Outras , reencontrei nesse inexplicável acaso que se chama vida.


Nesses dias de criança , ri e chorei , entre gritos , canções improvisadas , elogios e xingamentos . Mas os bons momentos foram muito mais intensos . E mesmo que não fossem , estaria presente . Pois torcer de fato independe da circunstância . E o sentimento inexiste para descrições ou explicações . Ele simplesmente se vive . Desfrutando ou lamentando . Jamais sofrendo .


Quando , após muita insistência, o gol era alcançado , geralmente saído dos pés de Paty, as preocupações do cotidiano davam uma folga e todos se tornavam um gigante. As barreiras, as diferenças ou a distância construída pelo tempo desmoronavam, tal qual um castelo de areia desfeito por um vendaval . Com o final decretado e a vitória celebrada , as palmas não faziam-se de rogadas. E eu voltava à minha rotina . Porém, satisfeito. Porque, durante aqueles minutos , a felicidade era rubro anil .


4 comentários:

  1. Caro Carlos Alberto Pinho Junior,

    Não há melhor maneira de expressa o nosso GRANDE AMOR PELO BONSUÇA da forma como você dissertou nesse texto digno de qualquer autor consagrado. Me lembrou muito as crônicas do nosso saudoso Armando Nogueira. Fico muito feliz por existirem torcedores rubro anil como você que sabe expressa todo esse sentimento que sentimos através dessas belíssimas palavras. E mostrar para os mais jovens o que é ser BONSUCESSO. O porque de estarmos todo jogo atrás do gol demonstrando um AMOR que fica difícil de explicar. O atual momento que passamos e muito especial,pois estamos resgatando toda essa tradição que é assistir um jogo no Estádio Leônidas da Silva (Teixeirão).

    PARABÉNS POR ESSE LINDO TEXTO.

    Seja bem vindo aos fanáticos!

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  2. Obrigado , André ! Fico feliz pelas suas palavras e pelo atual momento do Bonsucesso . Espero que o resultado seja a volta ao lugar do qual nunca deveria ter saído . Se dependesse só do amor pelo clube , jamais cairíamos . Mas os jogadores estão mostrando que o nosso desejo não é meramente um sonho . E sim , algo que está mais próximo a cada partida .

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  3. O Poeta vestiu as letras de rubro anil para encantar o alfabeto!!! Parabéns Carlos Alberto!!!

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  4. ROBINHO5/21/2010

    VALEU C. A. SEU "CONJUNTO"(ARMANDO NOGUEIRA MANDAVA ESSA) DE PALAVRAS ARREPIOU E OS COMENTÁRIOS DO FUTURO PRESIDENTE(ANDRÉ) E DO PROFETA RUBRANIL(GEORGE) EMOCIONOU.

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