A manchete da matéria destacava que o Rubro-Anil tinha 21 mil sócios! Isso mesmo: 21 mil sócios! O que representava a força do Bonsuça no século passado na Zona Norte. Além disso, a publicação informava que o clube tinha em caixa 700 mil cruzeiros para investimentos.
Em março (1975), a Placar dizia que o Bonsucesso tinha um departamento de futebol qualificado e com as despesas devidamente programadas até agosto. Com uma categoria de base imponente e reforços pontuais, o time começara aquele Campeonato Carioca invicto nos três primeiros jogos e via o Olaria mal das pernas: "O Bonsucesso está com tudo e não está prosa".
Tamanha era a expectativa por aquela temporada que o clube era tido como um dos postulantes a vaga no Campeonato Brasileiro, mas a questão política com a antiga CBD colocou água no chope.
"Os convites são e continuarão a ser políticos. Eu jamais farei pedidos à CBD. Ela tem obrigação de observar os clubes, como observou o Guarani. Falo de futebol, de time, não de clube ou patrimônio. Por que convidar o Americano, de Campos. Por quê? É um convite político. O Americano entra no lugar do Olaria. E quem vai mostrar contra os clubes dos centros maiores? Vamos trabalhar sério. Talvez a CBD entenda o nosso propósito", disse Paulo Ribeiro, ex-diretor de futebol à Placar.
Com um departamento de futebol autônomo, o Bonsucesso foi com tudo no mercado em busca de reforços. E não foram quaisquer nomes. Sob o comando do técnico Velha, os dirigentes trouxeram jogadores como Samarone, Adãozinho, Marco Antonio, Mickey e Valdir, todos com passagens pelos grandes clubes do Rio de Janeiro.
A Revista Placa destacou que Paulo Ribeiro tinha três pilares para o sucesso do Bonsucesso e um deles era acreditar que a torcida abraçaria a causa pelo alto número de sócios, que poderiam prestigiar os jogos dentro e fora de casa e que os juízes não praticariam 'má fé' contra o Leão da Leopoldina. Inclusive palestras foram feitas com árbitros, entre eles, Arnaldo Cézar Coelho.
O início realmente foi animador. Apesar do empate com o Campo Grande, na Teixeira de Castro, por 1 a 1, o Bonsucesso venceu o Vasco em São Januário, 1 a 0, na 2ª rodada (estreias de Samarone e Marco Antonio) e no jogo seguinte, empatou com o Flamengo em 0 a 0 (estreias de Adãozinho e Mickey).
Incomodados com o estilo de jogo do Bonsuça, Velha, que começou sua carreira como auxiliar de Gentil Cardoso em 1956, se defendeu:
"Sei e todos sabem que Flamengo, Fluminense, Vasco, America e Botafogo têm mais valores do que o Bonsucesso. Então, se me atacam, tenho de me defender. Antes, o Bonsucesso era atacado sem bola. Ano passado, Abel (Braga), zagueiro do Fluminense, fez dois gols de cabeça na gente. Por quê? Porque ninguém se preocupava com o nosso ataque. Por isso todos nos atacavam com oito ou até nove jogadores. E nossa defesa que se virasse. Agora, temos atacantes que resolvem. Se a defesa adversária sair, leva gol. O que me irrita é ouvir certos treinadores nos acusarem de jogar na retranca. Ora, isso é desculpa. O Jouber disse que o Bonsucesso se realizara com o empate, que somos time pequeno. O melhor que ele poderia fazer seria corrigir os erros do seu time. Ele precisa é ter mais respeito pelo Bonsucesso.
Raul Quadros que escrevera a matéria retratava: "Mais do que nunca certo de que é um clube grande. Um clube que não atrasa salários - tem até data certa para pagá-los: o dia dez de cada mês - e nada deixar faltar aos seus jogadores".
A realidade atual é diferente. Com muitos problemas financeiros e dívidas nas costas, o clube se mantém de pé por ser uma associação sem fins lucrativos, mas carrega processos trabalhistas incontáveis e uma queda vertiginosa no quadro de sócios ao longo das décadas.
Em 1975, o Bonsucesso terminou o 1º Turno do Carioca em 6º, mas no 2º Turno acabou em penúltimo entre 12 times. No ano passado, na Série B2, o clube foi o 7º sem avançar às semifinais e amarga uma triste realidade distante dos holofotes da elite.