Antonio Carlos Naine atende João Carlos, um dos artilheiros do Carioca de 2020
Foto: Arquivo Pessoal
O 'Fanáticos' teve acesso a outros trechos exclusivos do depoimento do médico Antonio Carlos Naine à Polícia Civil na última semana, no inquérito que apura fraudes nos atestados de COVID-19 durante a disputa da Série B1 do Campeonato Carioca. O profissional que foi o representante do Bonsucesso na elaboração do protocolo 'Jogo Seguro' na FERJ, lavou às mãos ao afirmar que não assinou nenhuma súmula a partir da 5ª rodada da Taça Santos Dumont.
Naine revelou à Delegacia de Defraudações que chegou ao Bonsucesso para ser coordenador médico em meados de 2015, através de um convite do 'amigo' Marcelo Salgado, ex-gestor do Bonsucesso, entretanto, não possuía vínculo empregatício. O médico recebia apenas uma remuneração com valor fixado de acordo com o número de jogos que ele trabalhava, atendendo as demandas do time.
Antonio Carlos Naine afirmou que deixou o Bonsucesso tão logo Marcelo Salgado também se ausentou do futebol em outubro de 2020. Segundo o médico, ele não foi chamado para participar de nenhum outro jogo a partir dali.
Antes, porém, o médico confirmou que foi responsável por analisar os testes de PCR (COVID-19) realizados pelo elenco e staff em um posto de saúde em Ramos até a 5ª rodada do Campeonato Carioca, contra o Sampaio Correa, no dia 4 de outubro. Segundo ele: 'Diante do resultado, liberava ou não os jogadores, assinando a súmula". Naine disse que os exames nunca foram anexados nas partidas. Ele analisava os diagnósticos e encaminhava à diretoria do clube.
Questionado se ele reconhecia a assinatura na súmula do confronto com o Angra dos Reis, quando o supervisor técnico rubricou o atestado médico feito à mão, Naine garantiu que a súmula além de parecer uma xerox, tinha uma assinatura diferente dos documentos apresentados por ele anteriormente, constatando, portanto, que era falsa.
A Delegacia de Defraudações pediu o contrato de parceria entre o atual gestor, José Agnaldo Sena, com o Bonsucesso e deve convocá-lo para uma oitiva a fim de esclarecer os fatos. Uma denúncia da suposta irregularidade do Bonsucesso foi feita aos procuradores do TJD-RJ com mais de 30 páginas. A entidade já investiga irregularidades no Mesquita. Os clubes podem ser severamente penalizados além de seus representantes. Outras equipes também estão na mira.
O inquérito na esfera criminal deve ser encaminhado ao GAEDEST (Grupo de Atuação Especializada do Desporto e Defesa do Torcedor), núcleo do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Na estreia da Série B1, o Bonsucesso recorreu ao ortopedista Yuri Tirelli Vieira, que assinou a súmula e o atestado epidemiológico, alegando que os atletas e comissão técnica estavam clinicamente aptos para a partida contra o Nova Iguaçu. A médica Valdete Narciso assina as súmulas contra o Serra Macaense, Rio São Paulo e Gonçalense. O doutor Sérgio Antonio dos Santos carimbou a súmula no clássico com o Olaria. As demais súmulas não constam assinatura de médicos.
Nesta segunda-feira, o TJD-RJ ouviu o gestor do Mesquita, Antônio Carlos Dias de Souza, que prestou depoimento sobre as supostas irregularidades nos exames do clube. Alex Bousquet e Elbert Maia, médicos do Mesquita, participarão da oitiva em breve. Em 11 de fevereiro, José Lannes, diretor técnico do Laboratório da UNIGRANRIO; Cléber Louzada, ex-presidente do Mesquita; e Angelo Benachio, atual presidente do clube, foram ouvidos e provas documentais foram anexadas no processo.
SÉRIE A DO BRASILEIRO
No Campeonato Brasileiro, foram 320 casos confirmados entre atletas e técnicos com a COVID-19. Desse número total, 18 foram treinadores. Vasco e Fluminense foram os recordistas de casos com 26 testes positivos cada. O Flamengo teve 21 e o Botafogo, nove.