Blog Roberto Porto
E a bandeira do Bonsucesso ?
Aí está uma foto bastante curiosa. É da Seleção Brasileira, dirigida por João Saldanha, que derrotou o Paraguai por 1 a 0 (gol de Pelé), no Maracanã, quebrando o recorde de público no estádio (183 mil 341 pagantes) e conquistando uma vaga para a Copa do Mundo de 1970, no México.
Mas o que é estranho? Atrás dos jogadores tremulam duas bandeiras: uma já esperada, a do Botafogo, que àquela altura tinha dois jogadores na equipe (Jairzinho e Gérson); e a outra? Nada mais nada menos que a do Bonsucesso Futebol Clube, que anda esquecido pelos torcedores.
O time aí formado é este: de pé, da esquerda para a direita, Carlos Alberto Torres, Félix Venerando Mieli, Djalma Dias, Joel Camargo, Piazza e Rildo da Costa Menezes; agachados, na mesma ordem, Jair Ventura Filho, Gérson Nunes, Tostão, Pelé e Edu. Em poucas e resumidas palavras, esta escalação no 4-2-4, em minha opinião, derrubou João Saldanha. Com quatro atacantes fixos não havia jeito de se chegar a lugar algum no Mundial. Daí a chegada de Zagallo e, com ele, o ponta recuado, Rivellino ou Paulo César.
Pessoalmente, pelo trato que tinha com João Saldanha (1917-1990) e Sandro Moreyra (1919-1987), meus porta-vozes do Botafogo, custei a acreditar que João escalasse uma equipe no 4-2-4.
Por que, os leitores deste blog podem perguntar? Porque já em 1957, quando enfrentou e goleou o Fluminense (6 a 2), na final do Campeonato Carioca, João escalou um Botafogo super-cuidadoso, com Pampolini, Didi, Édson e Quarentinha no meio-campo, deixando apenas Garrincha (1933-1983) e Paulo Catimba Valentim (1932-1984) no ataque. Eu estava lá e fui testemunha ocular.
Pouco depois da conquista do tricampeonato mundial no México, viajei pelo Correio da Manhã até Santiago, a fim de cobrir o primeiro amistoso dos campeões, contra o Chile, no Estádio Nacional. E, por puro acaso, O presidente da CBD, João Havelange, o vice Abílio de Almeida e eu e mais o fotógrafo da Manchete Jáder Neves, ficamos retidos no Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires.
Havelange, com a autoridade que tinha, nos colocou a todos numa conexão da Swissair e podemos chegar a salvo em Pudahuel, o aeroporto chileno. Mas a conversa que tivemos em Ezeiza foi esclarecedora. Até porque foi à vontade, entre quatro brasileiros.
No bate-papo informal, à espera da conexão, Havelange tocou no ponto que eu queria, ou seja, no inacreditável esquema retrógrado que João havia traçado para a Seleção Brasileira. Deixei que a conversa fluísse, porque queria saber se teria havido algum dedo militar no afastamento de João (comunista tradicional) e percebi que não ocorrera.
Talvez, se eu tivesse apertado Havelange, falando em militares, ele poderia dizer a mesma coisa, ou seja, o esquema furado de João. Mas nem precisei. Ele mesmo botou a boca no trombone e disse que no 4-2-4 o Brasil não iria a lugar algum.Faz tento tempo que me sinto tirando coisas do baú. Mas quem é que me explica a presença fantástica da bandeira do Bonsucesso em campo?