E para tal feito, o Bonsucesso conta com o maior ganhador de títulos no banco de reservas. O técnico Manoel Neto que chegou em janeiro ao Rubro-Anil conquistou oito troféus, todos nas séries inferiores do futebol carioca. O Super Esportes foi atrás do treinador na semana que pode ser considerada a mais importante da equipe no ano para comentar o sucesso desta carreira que completa 20 anos em 2011.
“A minha carreira começou no futebol de praia, em Copacabana, onde moro há 40 anos. Jogadores da época como o João Cláudio foi para Bangu, o Adalberto para o Flamengo e eu fui levado para o Olaria. Joguei apenas sete anos já que tive dois problemas nos joelhos e não exista a mesma recuperação que tem hoje, portanto tive a carreira encurtada.
Apesar do sucesso por onde passa, Manoel Neto revela qual o segredo para tantos títulos na carreira.
“O segredo é saber escolher o jogador para a disputa da competição. O jogador adaptado a atuar na Primeira Divisão não sabe atuar na Segunda. Tudo porque não tem espaço. Na Segunda Divisão o jogo é pegado. Aqui o caso é o inverso.”
Abrindo um parêntese na entrevista, Manoel Neto fez questão de citar o meia-atacante Marco Goiano como um dos jogadores do elenco que pode se adaptar facilmente a elite do futebol carioca.
“O Marco Goiano, um dos principais jogadores do Bonsucesso, se encaixa perfeitamente em qualquer clube. Ele atuou no Paraná Clube e hoje está do nosso lado. Expliquei para ele no início a importância de atuar na Segunda Divisão do Rio. Quando ele retornar para a elite sentirá uma facilidade muito grande porque já uniu a pegada com a técnica. Esse rapaz está ganhando muito com essa passagem no Bonsucesso”
Muito agitado durante o último treinamento da equipe antes da partida deste sábado, Manoel Neto revelou que apesar de cobrar o máximo dos atletas também sabe ser camarada e adotar o estilo ‘paizão’ assim como Joel Santana.
“Temos que saber a hora de cobrar e exigir mais do atleta. Sou um cara exigente, mas assimilo muito bem a relação com o jogador. Estamos dando certo principalmente no Bonsucesso. Sempre tive vontade de pisar aqui e ser treinador do clube. Gosto muito do Joel (Santana). A maneira que ele trabalha é espetacular. Fiquei até feliz como uma comparação que fizeram entre eu e ele. O Joel ganhou diversos títulos na Primeira Divisão e eu no Acesso. Gosto da maneira que ele cobra e ao mesmo tempo trata com respeito o jogador. Ele é pai na hora certa também. Isso é fundamental.”
Após a conquista do título com o Duque de Caxias em 2007, Manoel Neto foi chamado para trabalhar no Soarense Sport Club, de Portugal, mas não conseguiu se firmar na Europa. O treinador explicou os motivos e garantiu que não conseguiu se adaptar.
“Retornei há seis meses de Portugal e tive que mudar algumas coisas por lá. O futebol europeu é direto, pelo menos neste país. Meu time joga com a bola no chão. Recebi algumas críticas em Portugal por ser brasileiro e por tentar colocar técnica na equipe. Mas dei sorte. Voltei ao Brasil e estou feliz no Bonsucesso. O dinheiro é maravilhoso, mas não me adaptei ao frio. Moro dentro da Praia de Copacabana (risos). Além disso, estava com saudades da minha família. Não é desculpa."
Ele enumerou as principais diferenças entre os clubes da elite do futebol carioca e a realidade dos clubes das Séries B e C. Neto explica que além de se preocupar com a forma que empregará o time dentro das quatro linhas também é necessário ter jogo de cintura e ser psicólogo com os atletas já que a realidade financeira é outra.
“É uma grande diferença. Trabalhar com nível ‘A’ que recebe 40, 50, 60 mil e no ‘B’ com às vezes no máximo dois salários mínimos. Estive em clubes considerados pequenos na Primeira Divisão, não fui tão mal, mas é uma diferença absurda. Enfrentar o Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco não é fácil. Em 2008, estava no Caxias e estreamos diante do América, no Giullite Coutinho.
Experiente, Manoel Neto citou quais clubes têm as maiores chances de conquistar as duas vagas que dão direito a retornar a elite do futebol carioca e explica o que o motivou a acertar com o Bonsucesso após o retorno de Portugal, quando tinha dito que buscaria uma valorização maior e um clube de ponta do país.
“Hoje o Bonsucesso, Friburguense, Sendas e Quissamã são os clubes que têm mais chances de subir a Primeira Divisão. A amizade que tenho aqui me fez acertar com o Bonsucesso. Muitas vezes assisti jogos aqui e atuei contra. A maneira como é tratado o profissional me sensibilizou. Não vejo diretor de futebol, presidente, ou qualquer diretor na beira do campo dando instruções e nos atrapalhando. Vamos chegar. Tenho certeza. Aqui é diferente”
Para ele, a continuidade do trabalho desde a fase de grupos da Série B pode ser um fator preponderante para conseguir uma das vagas para a Série A.
“Essa sequência é importante porque conheço bem o grupo e a característica de cada jogador. É necessário dar condição de trabalho ao treinador. No Brasil ou em qualquer lugar do mundo perdendo umas três partidas consecutivas o técnico já começa a ser questionado e pode ficar fora dos planos. Eles querem resultado imediato e não é por aí. Estou feliz aqui. Cheguei no dia 12 de janeiro e está dando caldo.”
O bom trabalho à frente do Bonsucesso já rendeu convites para deixar o clube, conforme ele mesmo revela, mas engana-se quem pensa que ele possa deixar o time neste momento crucial da competição.
“Já recebi convites inclusive de Portugal. O próprio time que sai me fez um convite. O que não deu certo para o meu retorno foi o pedido de apenas em retornar ao Soarense, mas gosto de trabalhar juntamente da minha comissão técnica. Fui sozinho da última vez e não estava acompanhado de pessoas da minha confiança. Isso pesou no momento da decisão.”
Manoel Neto brinca ao ser chamado de ‘Rei do Acesso’ e afirma que a responsabilidade aumenta com este ‘slogan’.
“É bom, mas é caro. Ser ‘Rei do Acesso’ não é fácil. É uma responsabilidade muito grande. Se o jogador está ruim em campo a culpa é do Manoel Neto. Quando não dá certo a culpa sempre é minha (risos).”
Visando a partida deste sábado, contra o Quissamã, o treinador promete empenho e não deixa de apimentar a ‘decisão’ antecipada do Campeonato Carioca da Série B.
“Podem esperar muita luta. Já conversamos bastante durante a semana. Não vamos deixar um estranho bagunçar a nossa casa. Não vamos deixá-los entrar em casa, abrir a geladeira e sentar no nosso sofá. Temos que esquecer os desfalques. São importantes, mas temos que ter a consciência de que eles não podem atuar. Tenho confiança nos atletas que vão suprir essas ausências.”
A diretoria deve quitar até amanhã pela manhã os salários dos atletas. Para o treinador, essa se torna uma motivação extra para o jogo.
“A nível de Segunda Divisão isso é muito importante. Receber o salário antes de uma partida sempre motiva até porque todos têm seus compromissos a cumprir e suas dividas a pagar. Aqui, ninguém vai à porta do presidente cobrar nada. Sabemos que ele tem feito o esforço possível para nos dar condição de trabalho e tem conseguido. Tanto é que as coisas vem acontecendo positivamente.”
Quanto a uma permanência no clube após a Série B, o técnico do Bonsucesso deixa uma lacuna aberta e explica que neste momento o mais importante é buscar uma vaga na elite do futebol nacional.
“Só Deus sabe o dia de amanhã. Eu te digo que estou muito feliz com a possibilidade de subir mais um clube para a 1ª Divisão. Terei maior orgulho e satisfação de reerguer o clube. Tive uma conversa com o presidente, mas o meu contrato vai até o final da competição. A intenção dele é dar sequência ao trabalho na Copa Rio, mas tenho certeza que depois da subida a elite entraremos em um acordo. Estou focado primeiro em conseguir o acesso”, concluiu.
Confira os títulos de Manoel Neto:
- Taça Rio Portuguesa 2000
- 2ª Divisão Portuguesa 2000
- 2ª Divisão Serrano 1999
- Taça Rio Rubro Social 1996
- 2ª Divisão Barreira 1994
- 2ª Divisão Serrano 1992
- 3ª Divisão Tamoio 1991