Deni Menezes presentiou a torcida rubro-anil com suas lembranças. Foto: Fabio Menezes
"O Bonsucesso F.C. fez parte do bom grupo dos chamados times de menor investimento do Campeonato Carioca. Comecei a vê-lo jogar em 1958, ano em que iniciei a carreira de repórter na Rádio Nacional. Fiz a cobertura de muitos jogos no estádio da Avenida Teixeira de Castro, inclusive à noite. Quando os grandes iam jogar lá a lotação era sempre completa. A exemplo dos outros - Olaria, Madureira, São Cristóvão, Portuguesa -, o Bonsucesso costumava fazer jogo equilibrado com os grandes, embora às vezes todos derrapassem feio.
Quando o Vasco foi supersupercampeão carioca em 1958, em triangular com Flamengo e Botafogo, os jogos foram muito iguais. O Vasco teve dificuldade para ganhar (4 a 2) no turno e só empatou (3 a 3) no returno com o Bonsucesso, e perdeu do Madureira (3 a 1), da Portuguesa (2 a 1) e empatou (1 a 1) com o São Cristóvão.
Formador de valores, o Bonsucesso revelou nos anos 50 o meio-campo Jair Francisco e o ponta-esquerda Quincas, que jogaram no Fluminense, e no início dos anos 60 o goleiro Claudio, que depois de três temporadas de sucesso foi contratado pelo Santos F.C. O apoiador Jaime, que formou o meio-campo campeão de 66 no Bangu, com Ocimar, revelado no Madureira, foi descoberta do Bonsucesso.
No início dos anos 60, o Bonsucesso contratou Pinheiro, zagueiro de sucesso nos anos 50 no Fluminense e na seleção brasileira. Foi iniciativa do vice de futebol Creso Gouvêa, que deu um fusquinha como luvas e pagava três mil cruzeiros ao jogador. Na mesma época, passaram pelo Bonsucesso o goleiro Jonas, o zagueiro Jerry e o ponta Gílbert, que depois foram para o America.
Uma zaga que se destacou no Bonsucesso - Moisés e Paulo Lumumba - foi para o Vasco e o Flamengo no início dos anos 70, depois de terem atuado com o apoiador Amaro, campeão em 60 no America, Jair Pereira(foto) e o uruguaio Danilo Menezes, que também saíram para o Vasco.
No início dos anos 70, o meio-campo Zé Mário se sobressaiu no Bonsucesso e saiu para ser campeão no Vasco, Flamengo e Fluminense. Em 73, Fluminense campeão não saiu do 0 a 0 com o Bonsucesso, que no ano seguinte, Flamengo campeão, fez 2 a 0 e o Flamengo suou para empatar com os gols de Zico e Vanderlei (Luxemburgo), lateral apenas modesto.
A convite de Paulo Ribeiro, vice-presidente do Bonsucesso, fiz um trabalho de assessoria de imprensa, após as contratações de Mickey e Samarone, que eram do Fluminense, onde o dirigente havia ocupado o mesmo cargo. Em 75, o Fluminense só ganhou de 1 a 0 e no returno 1 a 1. No ano seguinte, Bonsucesso 3 x 0 Fluminense, que montou a Máquina, com Rivellino, Doval, Gil, Dirceu, Paulo Cesar e outros.
Fiz amizade com algumas figuras marcantes do Bonsucesso. O atacante Gradim, que jogou com Leônidas da Silva no início dos anos 30 e depois foi técnico de sucesso no Vasco, supersupercampeão carioca de 58. Eunápio, meio-campo do final dos anos 40, mas que só conheci árbitro em meados de 64 no final da carreira dele.
Uma história diferente no futebol, com Eunápio de Queirós e Zizinho em meados dos anos 60. Ele voltava dos Jogos Olímpicos do Japão, em 64, e foi apitar Bangu x Vasco, no Maracanã. Antes de sair para o intervalo, Zizinho disse a um repórter de campo que "o Larápio de Queirós" estava roubando o Bangu. O repórter relatou ao Eunápio antes do início do segundo tempo.
Quando os times voltaram, Eunápio chamou Zizinho e pediu que confirmasse. Zizinho confirmou. E foi expulso. O Bangu jogou o segundo tempo com 10. Um fato inédito na história do Maracanã.
Moacir Barbosa(foto), depois de atuações marcantes no Vasco - campeão carioca em 45, 47, 49 (invicto) e 50 -, campeão sul-americano em 45 e vice-campeão mundial em 50 - jogou no Bonsucesso. Antes dele, outro bom goleiro - Manga, não o que foi do Botafogo - tanto se destacou no Bonsucesso que foi para o Santos, junto com o apoiador Urubatão. E depois de Manga e Barbosa, o Bonsucesso teve outro goleiro negro - Ari -, em 51, que depois foi campeão no Flamengo e no America.
Barbosa, que nunca foi perdoado pela perda da Copa de 50, por causa do gol de Gigghia, em que muitos acharam que ele falhou, teve uma frase: "No Brasil, a pena máxima é de 30 anos. Estou pagando há mais de 40". E até hoje, quando se recorda o episódio, muitos não o perdoam, mesmo depois de morto. Foi em 16 de julho, um mês depois da inauguração do Maracanã. O Brasil fez 1 a 0, jogava pelo empate e perdeu de 2 a 1, diante de mais de 200 mil espectadores.
O Bonsucesso teve outros destaques: o meio-campo Nicola, em 53, que depois saiu para o Fluminense. Os atacantes Vassil, que saiu para o America. O ponta-direita Lino, campeão em 51 no Fluminense. Quarentinha, artilheiro e campeão no Botafogo. O meio-campo Valdemar, campeão em 58 no Vasco. Nilo, ponta-esquerda campeão em 60 no America.
O argentino Armando Renganeschi, zagueiro elegante, segundo testemunham os que o viram jogar no início dos anos 40, foi do Bonsucesso, onde formou o que à época se chamava de trio final com Francisco, Salvador e Renganeschi. Depois foi campeão no Fluminense e no Flamengo, cujo time dirigiu em 65, ano do IV Centenário do Rio, quando foi campeão carioca. Fiz muita entrevista com ele. Era atencioso, educado e de voz mansa. Muito se criticava os argentinos, mas tanto ele quanto Alfredo Gonzalez, meia-esquerda do primeiro tri do Flamengo e técnico do Bangu, campeão de 66, eram figuras amáveis. Gonzalez me dava carona no fusquinha verde de Copacabana a Bangu, onde fiz a cobertura da campanha.
O principal nome da história do futebol do Bonsucesso, que começou a disputar o Campeonato Carioca em 1929, dois anos antes de o profissionalismo ser implantado no Rio, foi Leônidas da Silva(foto), em 1931. Ele disputou as Copas de 1934 na Itália e de 1938 na França. Foi o artilheiro da Copa de 38 com 8 gols e chamado de "O Homem de Borracha" pelos jornalistas franceses ao inventar a bicicleta. Leônidas foi tricampeão carioca - 42-43-44 - no Flamengo e depois se transferiu para o São Paulo, onde encerrou a carreira campeão paulista em 1951.
Estive em algumas viagens com a seleção brasileira na Europa, em meados dos anos 70, quando ele era comentarista da Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan.Tempos depois, o Bonsucesso decidiu dar ao estádio da Avenida Teixeira de Castro o nome dele.O chocolate Diamante Negro, até hoje no mercado, foi criado em homenagem a Leônidas.
Meu abraço a todos e saudações rubro-anis, desejando que o Bonsucesso volte ao seu devido e merecido lugar."
''Deni Menezes''