03/12/2021

TÁ NO LIVRO, COM PAULO JORGE #24



Por: Paulo Jorge

A HISTÓRIA MAGNÍFICA DO BONSUCESSO: SALVEM O CLUBE SUBURBANO!


Até onde vai a identificação de um clube com o bairro? Sabemos que os clubes de bairros tiveram uma importância na formação da cultura local que não podemos medir. Esses pequenos e médios clubes levam em seus tijolos, histórias, lendas, vitórias e lutas dos suburbanos, preservam através de fotos e reportagens momentos que marcaram os moradores dos bairros, muitos ainda conhecidos na época como arrabaldes.

Antigos moradores guardam nas lembranças os bailes, campanhas de vacinação e jogos de todos os esportes que participaram ou assistiram nesses clubes. Inúmeros times infelizmente acabaram e com eles morreram muitas histórias que poderiam ser contadas e os que ainda sobrevivem (ou tentam sobreviver) lutam a cada dia pela permanência dos associados e da estrutura construída com o suor e a mensalidade dos contribuintes.

Olaria, Madureira e Bonsucesso representam o melhor do futebol suburbano. Poderia citar outros tantos clubes amadores que infelizmente sucumbiram ao tempo, mas minha intensão é exaltar um pouco da belíssima história de um dos clubes mais tradicionais do futebol carioca.

A meu ver, o futebol carioca possui dez clubes tradicionais que merecem todo o destaque no cenário carioca: Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, Bangu, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Madureira e Campo Grande, com menção honrosa a Portuguesa e ao Canto do Rio. Esses clubes ajudaram a escrever a história do futebol carioca, mas jamais podemos esquecer aqueles pequenos clubes de bairro que tanto contribuíram para o cenário suburbano.

Vamos viajar no passado e conhecer um pouco da maravilhosa história do Bonsucesso que hoje está sendo maltratado por diretorias que não conseguiram reerguer o clube que até 2017 disputava a Primeira Divisão e hoje está mergulhado numa crise e amargando a Quarta Divisão.


O COMEÇO

Todo clube que se preze deve ter um hino. Você conhece o do querido Bonsucesso? 

Para a torcida rubro-anil

Palmas eu peço

Na Leopoldina em cada esquina

Quem domina é o Bonsucesso

Lá surgiu um jogador sensacional

Surgiu Leônidas, o maioral!



Quando a turma joga em casa

A linha arrasa

Que baile... Que troça!

A torcida grita em coro

Não há choro

A vitória hoje é nossa



Quando a turma joga em casa

A linha arrasa

Que baile... Que troça!

A torcida grita em coro

Não há choro

A vitória hoje é nossa


Não poderia começar de outra forma , o hino do clube traduz bem a linda história dessa massa suburbana. Em 1913 , um grupo de rapazes decidiu criar um time de futebol. Nesse período, diversas equipes amadoras estavam sendo criadas por toda a cidade, cada bairro tinha um ou dois clubes que praticavam esse novo esporte. No dia 12 de outubro de 1913, na residência do senhor Alamiro Leitão, um grupo de rapazes, moradores da região de Bonsucesso, se reuniram e decidiram criar uma nova agremiação e todos eles decidiram que o primeiro presidente desse novo clube seria entregue a Francisco da Silva Leitão, pai do Alamiro.

O Clube rapidamente cresceu e não demorou muito para ganhar títulos de relevância. Diversos amistosos e jogos foram realizados com vitórias maiúsculas do time, demostrando que o Bonsuça poderia alçar voos mais altos. Em 1918, filiou-se Liga Suburbana e logo conquistou a Segunda Divisão da Liga, e em 1919, conquistou a Primeira Divisão da Liga. O time que marcou a história foi: Mingote; Alamiro, Sinhô; Mathias, Bacharel, D.Julia; Flavio, Caballero, Doca, Martins e Basilio.




O que mais marcava o clube além dos jogadores era a diretoria que tirava do próprio bolso para o clube sobreviver e crescer. Existe três notáveis que podemos destacar como os grandes homens da época: Ernesto Carneiro, Coronel Araújo e o grande homem do bairro, o médico Teixeira de Castro.

Percebendo que a Liga Metropolitana ficou pequena para eles, em 1920, filia-se a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres. O time a cada ano crescia assustadoramente e muito podemos atribuir também para o quadro de sócios, em sua grande maioria comerciantes do bairro que ajudavam a sustentar o crescimento do time. Conquistou diversos títulos ao longo dos anos de 1922, 1923 e 1924.

Em 1926, se filia a Associação Metropolitana de Esportes Athéticos (AMEA). Ingressando na segunda divisão da associação, logo mostrou força quando foi tricampeão consecutivo: 1926,1927 e 1928, quando surge a oportunidade de disputar pela primeira vez a divisão de elite carioca. Como campeão de 1928, o Bonsucesso ganhou o direito de disputar um play-off contra o último colocado do Campeonato da Primeira Divisão, que foi o Vila Isabel. O vencedor participaria da Primeira Divisão de 1929. 

O time da Grande Tijuca se recusou a jogar, a comissão da AMEA rebaixou o clube e promoveu o Bonsucesso, que disputara a Primeira Divisão desse ano e ficou em sétimo lugar. O jogo entre Bonsucesso x Vila Isabel foi marcado para o dia 15 de março, porém, o Vila não compareceu e aconteceu o W.O.

E esse ano de 1929 foi bom, hein! O time de vôlei do clube foi campeão da Segunda Divisão Carioca e iria disputar o campeonato da Primeira Divisão no ano seguinte. Na sede do time suburbano, a prática de esporte estava intensa. No local se praticava futebol, tiro, atletismo, racktball, tênis e ainda tinha espaço para a prática de escoteirismo. Para quem tem curiosidade, a primeira sede do Bonsucesso ficava na Rua Estrada do Norte (Hoje Teixeira de Castro) 38, perto da Estação de Bonsucesso e local conhecido pelos “sarais dançantes”.

Esse foi o time que disputou pela primeira vez o Campeonato Carioca: Medonho; Badú, Arubinha; Nico, Ernesto, Chininha; China, Grandinha, Eurico; Carola, Heiton, Claudio e Bida.






OS PRIMEIROS DIRIGENTES

Como já descrito no texto, o primeiro presidente do Clube foi Francisco da Silva Leitão, cuja a residência foi cedida para a criação do clube com toda a estrutura com campos e alojamentos. Podemos destacar tantos outros pelos primeiros anos, mas marcaram a história do clube nomes como: Ernesto Carneiro, Teixeira de Castro (também foi médico do clube), Coronel José João de Araújo (foi presidente de honra) e Manoel Lago.

Ao passar dos anos, outros foram entrando e acrescentando suas contribuições: Cesarito Cesar, Caballero, Arceu Macedo, Manoel Vieira, José Jacinto, Jair Guerra... Destacando o Teixeira de Castro, considerado o maior dirigente do clube de todos os tempos, Castro esteve presente desde os primeiros anos de clube e só saiu porque infelizmente veio a falecer. Apesar de sua grande fortuna, sempre ajudou o clube e os jogadores, usando a renda do próprio bolso.







MOMENTOS HISTÓRICOS


Um clube é feito de grandes momentos, acontecimentos que marcam para sempre a história do clube. A segunda foto do quadro acima, mostra a primeira formação do time do Bonsucesso pós-fundação em 1913, uma foto magnífica que mostra os primeiros jogadores (garotos) moradores do bairro, que ajudaram a ergueram esse pavilhão. Na foto acima vemos: Candido; Alamiro, Quimquim; Benício, Giovanni e Jurema; Botelho, Parafuso, Quincas, Pedro e Antonio.

Em 1955, o Rubro- Anil fez uma excursão até a Bolívia, a sua primeira na história e alguns dos jogadores famosos fizeram questão de ir ver a delegação na descida do aeroporto do Rio. Urubatão, que foi jogar no Santos, Gilberto foi para o Fluminense, Valdir para a Ponte Preta e o grande Manga, goleiro dos Santos. A campanha do Bonsucesso foi considerada boa :

Alianza Lima 1 x 1 Bonsucesso

Bonsucesso 3 x 0 Seleção Cocha Bomba

São José 2x1 Bonsucesso

Aliança 3 x 2 Bonsucesso


Apresentando a todos o quadro do Bonsucesso, campeão da 2ª Divisão em 1921: Viana; Almiro, D. Julia; Matias, Eurico e Catraia; Flavio, Manoel, Caballero, Doca; Rubens e Alberico.

A segunda foto mostra o time de Bonsucesso campeão de vôlei da Segundona Carioca. O mais interessante que os mesmo jogadores que praticavam o vôlei, faziam parte do quadro de futebol. Os heróis do vôlei: Durval, Francisco de Souza, Gradim, Jorge, Francisco, Loló, Fontoura e Cláudio são alguns exemplos.

E se eu disse que o Bonsucesso já ganhou de um campeão da Liberadores? Claro que o Palmeiras ainda nem sonhava em ganhar algo tão importante e, na verdade, ainda se chamava Palestra Itália, mas em 1932, os dois times jogaram um amistoso em pleno Parque Antártica e o placar foi 3x1 para os suburbanos. Na foto, vemos os jogadores - da esquerda para a direita -, em pé: Vareta, Eurico, Leônidas (circulado e com a camisa do time-foto rara), Rapadura, Loló, Oto, Prego, Marreco e Miro. Ajoelhados: Heitor, Catita, Cozinheiro, Durval, Claudio e Gradim (em destaque com circulo).

Tem ou não tem história o Bonsucesso? Isso é só um gostinho do que sempre você encontra aqui na Coluna 'Tá no Livro"! Até a próxima, fanáticos! 





3 comentários:

Deixe sua mensagem!