O
Bonsucesso agoniza perante a falta de recursos e ações trabalhistas movidas
contra a instituição ao longo dos últimos anos. Uma delas chama a atenção. Em
outubro de 2017, os advogados do jogador Igor Luiz Erasmo Ribeiro impetraram na
justiça uma ação contra o clube e a L&S, empresa de Marcelo Salgado, gestor
do futebol, por atrasos salariais. O atleta que tinha assinado contrato entre
22/06/2015 a 21/06/2018, recebia um salário base (R$880,00), porém a
diretoria não arcou com vencimentos durante parte do período. Nos
autos do processo, constam o inadimplemento das seguintes verbas trabalhistas (confira abaixo).
Na ação, Igor Luiz Ribeiro alega que jamais recebeu salários, férias vencidas mais 1/3 constitucional, 13º salários, depósitos fundiários, tampouco teve o recolhimento das contribuições previdenciárias e pede a rescisão unilateral do contrato além de relatar assédio moral já que desde o início de 2016, o clube o impediu de treinar com os demais atletas, inclusive o proibindo de acessar as dependências do estádio. Na soma total, o valor do processo ultrapassava a casa dos R$520 mil.
No dia 15 de janeiro de 2018, Igor Luiz Ribeiro teve deferida a tutela do passe para a rescisão unilateral do contrato com o Bonsucesso através da 24ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, mas os problemas não pararam por aí. Diante do imbróglio que destituiu o ex-presidente Zeca Simões, que foi substituído por Ary Amâncio à frente do Bonsucesso por ordem judicial, o novo dirigente assumiu às rédeas do caso sob orientações do então advogado José Ricardo Leite de Brito.
Em 1º de março de 2018, o Bonsucesso alegou que o jogador ‘firmou contrato de prestação de serviço pelo período de 22/06/2015 a 03/04/2017, mediante salário mensal de R$ 800,00, ocasião em que não mais compareceu na sede do clube reclamado para receber os seus direitos resilitórios.’
Tivemos acesso ao contrato da L&S com o Bonsucesso, que estabelece na cláusula terceira que, a empresa de Marcelo Salgado se comprometeu integralmente, em cumprir todas as responsabilidades trabalhistas. O contrato salienta ainda que a L&S detém um percentual de 95% de todas as cotas de televisão da TV Globo, repassadas pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, rendas de jogos, publicidades e exploração do clube (confira abaixo o contrato).
Em contato com à Rádio Globo/CBN, o advogado Júlio César Martins, que representa Igor Luiz Ribeiro, afirmou que a L&S era responsável pelo pagamento dos salários e encargos no clube durante o período de contrato do jogador.
"O jogador procurou à justiça porque ele queria exercer sua profissão e o clube não deixava ele treinar nem o liberou para outro time. O contrato dele era com o Bonsucesso. Se iniciou em 2015 e no período em que ele estava lá, a L&S fazia a gestão do clube, sendo ela a responsável por assumir os salários e encargos de todos os atletas que tinham contrato com o Bonsucesso. A L&S arrendou as divisões de base e a empresa que chegou no sub-20, impediu o acesso de todos os jogadores do Bonsucesso de participarem dos treinos", disse.
Em uma das reuniões de conciliação que terminou sem acordo, o próprio advogado do Bonsucesso havia citado a relação com a empresa quanto ao pagamento das obrigatoriedades no departamento de futebol.
Os advogados de Igor Luiz Ribeiro ainda apontam que a
L&S não é registrada na CBF e não está habilitada para ser intermediária de
jogadores. A Confederação Brasileira de Futebol, inclusive, ingressou como parte interessada no processo. Diante das acusações, a juíza Amanda Diniz Silveira
convocou os representantes da L&S Assessoria Empreendimentos e
Participações LTDA a prestarem esclarecimentos, porém, os oficiais não
encontraram Marcelo Salgado no endereço da empresa.
No dia 22 de outubro de 2018, o vice-presidente
geral do Bonsucesso, Nilton Ricardo Bittar, ingressou com um substabelecimento, desistindo da acusação contra a L&S, então responsável por todos os pagamentos e encargos, conforme estava em contrato já apresentado pelo 'Fanáticos pelo Cesso'.
Júlio César Martins se disse surpreendido ao longo do processo com a decisão do vice-presidente do Bonsucesso, Nilton Bittar, que eximiu a L&S de responsabilidade sobre os pagamentos e por fim, coube a instituição o ônus pelo pagamento do acordo.
"Houve surpresa até ao magistrado pelo contrato que está nos autos. É impensável um vice-presidente eleito transferir uma responsabilidade que já não era mais do clube para o seu próprio clube. Ou seja, fico livre de uma dívida, chego no processo e pego essa dívida de novo? É uma coisa absurda. É totalmente inédito. Ficamos sem entender essa parte", disse à Rádio Globo/CBN.
Apesar da decisão interposta por Nilton Bittar, a justiça
manteve a L&S no processo. Apuramos que na presença da juíza que acompanhou
o caso, o presidente Ary Amâncio chegou a negar que conhecesse Marcelo Salgado,
porém, a defesa do ex-jogador anexou fotos que comprovam a relação
entre a diretoria do clube e os gestores do futebol.
No dia 28 de novembro de 2018, em sessão na 24ª Vara do
Trabalho do Rio de Janeiro, o presidente Ary Amâncio, o gestor Marcelo Salgado
e o ex-jogador Igor Luiz Ribeiro ficaram frente à frente, e mediante aos fatos,
a juíza Amanda Diniz Silveira determinou que o Bonsucesso pagaria R$30 mil em
15 parcelas de R$2 mil, todo dia 20, ou no primeiro dia útil subsequente, em
recaindo em feriado ou final de semana, iniciando-se em 20/12/18, sob multa de
100% em caso de inadimplência. O clube, porém, só pagou a primeira parcela.
O ex-jogador novamente entrou com recurso na justiça no dia 23 de janeiro de
2019, três dias depois do vencimento da segunda parcela. A defesa ingressou com
pedido de penhora e bloqueio de crédito, como por exemplo, a cota pela
participação na Copa do Brasil de 2020, que o clube acabou desistindo de
disputar após o título inédito da Copa Rio. No fim do ano passado, o valor
corrigido da dívida se aproximava dos R$60 mil.
"Jamais iríamos imaginar que uma diretoria presidida por um senhor de mais de 70 anos iria perante ao juiz e a justiça para mentir. Ele descumpriu um acordo. É lamentável porque fere o nome da instituição. O Bonsucesso é um clube tradicional do subúrbio carioca. Esse fato não enganou somente ao jogador. Enganou também a justiça do Estado do Rio de Janeiro e deixou todos nós estarrecidos. O oficial de justiça penhorou as cadeiras do estádio Leônidas da Silva, não achamos justo com a história centenária do Bonsucesso, tentamos as vias normais com bloqueios de cotas da Copa do Brasil, o clube descumpriu o acordo, pagou apenas a primeira parcela e até agora mais nada. Estamos estudando o próximo passo com uma ação de fraude ao credor porque é impensável alguém ter R$500 mil a receber e abrir mão para outro clube", disse o advogado Júlio César Martins em referência a desistência do Bonsucesso pela vaga na Copa do Brasil (o Boavista acabou disputando a competição em 2020).
Tentamos contato com o presidente do Bonsucesso, Ary Amâncio, o vice-presidente Nilton Bittar e o gestor do futebol, Marcelo Salgado, porém, ninguém foi localizado. O advogado José Ricardo Leite de Brito disse que iria se manifestar posteriormente.
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