QUANTO VALE O
SHOW, LOMBARDEMMM?
"O Cardiff City, time do País de Gales que
disputa a segunda divisão inglesa, fundado em 1899 e sempre vestido em azul e
branco, conhecidos como Bluebirds (subentende-se que o mascote é um pássaro
azul), agora são os Red Dragons (dragões vermelhos).
"O clube foi comprado por um investidor malaio,
chamado Dato Chan Tien Ghee (...).
"Visando atingir o mercado asiático, a submissa
direção do clube mudou, do dia para noite, o distintivo, as cores e o mascote
do clube. Para isso, usará a imagem de um dragão vermelho, simbólico para os
povos do oriente, em especial, a endinheirada e populosa China."
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Enquanto o serviço público federal em greve vê seu ponto cortado pela
presidente guerrilheira, o técnico do Bonsucesso Futebol Clube estará pensando
na escalação da estreia na Copa Rio, dia 1/9, contra o arquirrival Olaria.
Isto porque tão surpreendente quanto a chegada do Papai Noel ou mesmo do
Coelhinho da Páscoa, sua nomeação pegou de surpresa até os mais próximos do
núcleo dirigente da diretoria do Bonsuça, ou para dizer mais claramente, seu
Presidente. Isso faz exatas duas semanas hoje, 22 de agosto, aniversário do
município de Cajazeiras, na Paraíba.
Zeca, nosso "Comandante-em-Chefe", não chegou a Orlando (será
que ele prefere Caulin?) por si, assim, de consigo. Fundamental foi o dedo de
Rogério Amorim, também recém-nomeado "vice-presidente de futebol",
junto com Régis Melo, novo “gerente de futebol” - esses, sim, pela vontade do
presidente rubro-anil.
A menos de trinta dias da estreia na principal (e única) competição do
Leão da Leopoldina no segundo semestre de 2012; passados mais de cinco meses do
fatídico rebaixamento, creditado por muitas sensatas opiniões à equivocada
opção pela reformulação total do quadro campeão da segunda divisão de 2011; a história
parece se repetir.
Como se não bastasse o estarrecimento, caberia lembrar que a notícia foi
dada apenas doze dias depois de Jorge Martins ter sido chamado à função de
coordenar a equipe que disputaria a Copa Rio. Também conhecido como “Baiano”, o
técnico levou o juniores do Bonsuça à quinta colocação no Estadual deste ano, à
frente do Vasco da Gama. O anúncio foi aclamado pela torcida, em colunas
(http://fanaticospelocesso.blogspot.com.br/2012/08/coluna-opiniao-e-historia-com-george.html)
e comentários no blog e no facebook.
Dos mesmos comentários veiculados na internet, porém, se extrai o fato:
o departamento de futebol do Bonsucesso, na verdade, foi entregue a um
empresário, que doravante o gerenciará. A nova opção, radicalmente oposta à
decisão imediatamente anterior de valorizar a "prata da casa" e as
divisões de base, pode ser considerada por muitos como normal em clubes de
menor investimento.
Triste o mundo em que o "normal" soa como sinônimo de correto.
Pois não é novidade nenhuma que, desde a profissionalização do futebol,
leva vantagem quem tem mais. Só que disso, às vezes, deriva a conclusão de que
o dinheiro pode resolver tudo. Nada além de lêdo engano.
Pode-se pensar que, quando se trata de MUITO, mas MUITO dinheiro, tudo
pode ser resolvido. Na verdade, o que se tem é pagar para que resolvam, ou para
que pareça ao dono do dinheiro que o resolveram. Falando de futebol, na segunda
divisão do Carioca, seguramente estamos longe, bem longe dessas vultuosas
cifras.
Mas não sabemos exatamente de quanto falamo$. E saberemos menos ainda agora,
que tudo está entregue a respeitáveis terceiros que não almejam nada além de
proveito mercantil com o clube. A técnica e a arte do esporte estarão
submetidas à perspectiva de lucro do negócio. A camisa, a tradição e a honra
serão consideradas na mesma medida. É disto que se trata: submeter-se à lógica
do mercado.
"Pois não é esta a que governa o mundo?" Perguntarão, talvez,
os mais esclarecidos. Esclarecidos, sim, no ledo engano do mundo. Pois, se hoje
há uma sede na Av. Teixeira de Castro, 54, devemos dar graças às nove famílias
que doaram seus terrenos para se fundar o primeiro estádio na Rua Uranos, no
longínquo 1918, e que até hoje estão representadas pelas nove pontas da estrela
no interior de nosso escudo. Estas, que não o fizeram por almejar nenhum lucro,
muito pelo contrário.
Pois foram os moços dessa geração que venceram, em 1919, o primeiro
Campeonato Suburbano de Futebol, título que até hoje o Leão luta por ver
reconhecido - enquanto Botafogo e Fluminense dividem um quadrangular de 1907 em
que um dos times abandonou o campeonato.
Se hoje não há promessa de glórias, ou posses, ainda há um teto na
Teixeira de Castro, legado daqueles heróis da década de 10. Se hoje não há
chance de jogar na Seleção, como foi para Leônidas e Gradim em 1932, ainda há
uma camisa, uma história e uma torcida, ainda que pequena. Como já dizia Lênin,
mais vale pouco, porém bom.
Que venha a Copa Rio. Que o espectro de Manga, do uruguaio Caballero, de
Gibira, dos Chinas, Lumumbas, de Gonçalves e do Morais que fizeram os gols
naquele jogo histórico contra o Flamengo em 1968 (o maracanazo rubro-anil), que o espectro de todos estes e de muitos
outros ronde os corações e as mentes dos novos dirigentes e jogadores. E que
esse espectro os contamine de sangue rubro e vontade anil por ver o Bonsuça nas
cabeças. Eis o que nos resta, enquanto torcida, no estádio: torcer pela vitória
do azul e grená.
Enquanto fora, é preciso e necessário contestar.
Fontes: