Juan Roman Riquelme,
confesso (ele, não eu), deixou de ser o mesmo; não delirou quem jura ter visto
o Boca entrar em campo de amarelo; a Fiel cumpriu seu papel e embalou o Timão;
e o Emerson, definitivamente, tem uma macaca
(http://renatomussum.tumblr.com/post/26536056750/boca-campeao-da-libertadores-2012-meus-parabens).
Dizem, porém, que
fundamental foi mesmo a torcida do ilustre “doze meias” de Villar dos Teles,
ministro Tacleberry. "Dale, Boca!" foi a saudação oficial
durante o dia da final. Já não bastava ter usado a camisa personalizada da azurra
na final da Eurocopa. Como o dele e dos italianos, azar dos xeneizes.
(No dialeto da
Ligúria, noroeste da Itália, xeneizes são os genoveses tais quais os que,
trabalhando no porto em Buenos Aires, fundaram a equipe dos bosteros.)
Demasiado seria para
este coração, galego de criação, sentir-se campeão duas vezes em menos de cinco
dias, ainda mais depois daquele quatro a zero lindo da Roja na Ucrânia. Não, este torcedor convicto do maior dos
"pequenos", o intumescível Bonsucesso Futebol Clube, não está
acostumado, poderia até desenvolver uma síncope, veja só.
Azar o nosso, o de se
envolver e torcer por contendas alheias, à falta dum calendário organizado a
partir das necessidades do futebol como expressão de um povo, antes dos
interesses das emissoras de TV e dos patrocinadores. À falta dum calendário que
permita a todos os clubes - em todos os níveis e divisões dos quais se compõe o
planeta bola - correr atrás da pelota durante toda a temporada, sem que tudo
pare só para os olhos vidrarem no tubo, no led, no LCD, sonhando ao sol do
plim-plim tudo a ver.
Esse brilho, esse luxo,
no limite, servem ao entorpecimento daquela vista cotidianamente treinada para reconhecer-se
- e deleitar-se - com vitórias tão reais quanto fictícias. Pois tanto a euforia
do autor do gol quanto o choro do vice são absurdamente palpáveis, seja na
esquina, no estádio ou na TV. Mas por lá ficam. O amor, no entanto, parece uma
teimosa semente que cisma germinar por entre as entranhas mais inóspitas,
nutrindo-se das lágrimas brotadas por chãos de navalha em vez dos perdigotos de
gargalhadas frívolas, e cresce entre ramos e rumos dos mais improváveis. E
mesmo na derrota.
Se as vitórias nos
apaziguam a tormenta d'alma e aliviam as vias aéreas, em vista dos ares
vindouros; sucumbir significa mais redescobrir-se no que não se quer,
afirmando-se pelo que se pretenda manter. A vitória do Corinthians, a saber, é
muito mais representativa do infortúnio de um futebol nacional autenticamente
popular - e, por isso, honrosamente brasileiro. Não porque desrespeite um
"estilo" de jogar - estes se forjam e desmancham ao sabor das vagas
de treinadores em eterna transição -, mas sim pelo resultado odioso de engrossar
o feijão das pilantragens em série proporcionadas pelo conluio entre a entidade
(de segurança) máxima CBF com a FIFA, seus suportes financeiros e ainda os
braços midiáticos.
(Ganhasse o Boca,
poder-se-ia dizer o mesmo, só que em relação ao Futebol argentino).
As siglas, por sua vez,
são apenas meios mais longos de se desvendar identidades; estas, as que operam
e professam cotidianamente a política, a razão e as paixões do mercado. De José
"das Medalhas" Marin, o ser que substituiu don Ricardo Teixeira, ao presidente do Ipicuí do Sul Atlético
Clube; a qualquer um pode servir a carapuça. Entre a vala a céu aberto e a obra
superfaturada de saneamento, a diferença pode estar no furo do ralo. Ou seria na
totalidade do sistema de esgoto?
Há, contudo, os que
resistem. Centenas de torcedores se encontraram no Obelisco da capital portenha
ao embalo de “Aunque ganes, aunque
pierdas, no me importa: yo te llevo dentro de mi corazón”. Camisa dez
convicto e capitão honrado, Roman avisou que vai parar, pediu para parar,
parou. O vazio declarado entre lágrimas pelo craque se instala no sentimiento boquense sem bater à porta. Riquelme
se aposenta de maneira honrada, reafirmando-se bostero de nacimiento. Combatente incansável, embora já ofegante, sabe:
sua marca só em muito tempo poderá ser batida, a do jogador que, sozinho,
conquistou mais Libertadores do que o Curíntia e todos os clubes cariocas
juntos.
Contando até o
Bonsucesso.
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E falando em Praça das Nações...
O Fanáticos deu em primeira
mão
(http://fanaticospelocesso.blogspot.com.br/2012/07/dois-meses-antes-de-comecar-federacao.html);
o colunista Herman já repercutiu
(http://fanaticospelocesso.blogspot.com.br/2012/07/analise-da-semana-com-herman-rubro-anil.html);
mas não é demais fazer coro: se deus quiser e a Federação de Futebol permitir,
o Leão da Leopoldina voltará a rugir na Teixeira de Castro a partir do próximo
dia primeiro de setembro, pela Copa Rio de 2012. Como adversário, ninguém menos
do que o arquirrival alvi-anil da rua Bariri.
O clássico leopoldinense
consta na história como o décimo quinto maior público do Campeonato Carioca de
Futebol. Numa quarta, feriado do trabalhador de 1968, 155.098 pessoas
testemunharam o rubro-anil bater o Olá por um a zero na preliminar de Vasco X
Flamengo, partidas válida pela última rodada do primeiro turno. Os olarienses,
penúltimos no grupo B, não se classificaram, mas o Bonsuça garantiu o quarto em
seu reunido (que contava ainda com Botafogo, Flamengo, América, Campo Grande e
Portuguesa, nesta ordem de classificação) seguindo à segunda etapa.
No último confronto,
havido passado sábado de carnaval, pelo encerramento do primeiro turno do
carioca 2012, tinha mando de campo do Olaria. A torcida – em sua maioria,
rubro-anil – teve de se contentar com um empate simples, esperando até os 38
minutos do segundo tempo pela chegada do gol; e o primeiro ainda foi do time da
casa. Naquela ocasião, estreava o técnico Marcão (ex-volante do Fluminense) no
comando da equipe da Teixeira de Castro, algumas rodadas após sua demissão do
Bangu, o pior colocado na Taça Guanabara.
O negócio é torcer
para que, desta vez, a banda toque diferente.