28/08/2012

"A CRÔNICA CRÍTICA DE UM RUBRO-ANIL" COM DÊRAUÊ




QUANTO VALE O SHOW, LOMBARDEMMM? 

"O Cardiff City, time do País de Gales que disputa a segunda divisão inglesa, fundado em 1899 e sempre vestido em azul e branco, conhecidos como Bluebirds (subentende-se que o mascote é um pássaro azul), agora são os Red Dragons (dragões vermelhos).

"O clube foi comprado por um investidor malaio, chamado Dato Chan Tien Ghee (...).

"Visando atingir o mercado asiático, a submissa direção do clube mudou, do dia para noite, o distintivo, as cores e o mascote do clube. Para isso, usará a imagem de um dragão vermelho, simbólico para os povos do oriente, em especial, a endinheirada e populosa China."

(Blog Papo de Boteco - http://estopim.net/y7/?p=1409)

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Enquanto o serviço público federal em greve vê seu ponto cortado pela presidente guerrilheira, o técnico do Bonsucesso Futebol Clube estará pensando na escalação da estreia na Copa Rio, dia 1/9, contra o arquirrival Olaria.

Isto porque tão surpreendente quanto a chegada do Papai Noel ou mesmo do Coelhinho da Páscoa, sua nomeação pegou de surpresa até os mais próximos do núcleo dirigente da diretoria do Bonsuça, ou para dizer mais claramente, seu Presidente. Isso faz exatas duas semanas hoje, 22 de agosto, aniversário do município de Cajazeiras, na Paraíba.
Digo Cajazeiras porque o homem de quem se trata, Orlando Caulin, tem larga experiência no futebol nordestino, conforme noticia o Fanáticos pelo Cesso (http://fanaticospelocesso.blogspot.com.br/2012/08/bonsucesso-anuncia-o-nome-do-novo.html).

Zeca, nosso "Comandante-em-Chefe", não chegou a Orlando (será que ele prefere Caulin?) por si, assim, de consigo. Fundamental foi o dedo de Rogério Amorim, também recém-nomeado "vice-presidente de futebol", junto com Régis Melo, novo “gerente de futebol” - esses, sim, pela vontade do presidente rubro-anil.

A menos de trinta dias da estreia na principal (e única) competição do Leão da Leopoldina no segundo semestre de 2012; passados mais de cinco meses do fatídico rebaixamento, creditado por muitas sensatas opiniões à equivocada opção pela reformulação total do quadro campeão da segunda divisão de 2011; a história parece se repetir.

Como se não bastasse o estarrecimento, caberia lembrar que a notícia foi dada apenas doze dias depois de Jorge Martins ter sido chamado à função de coordenar a equipe que disputaria a Copa Rio. Também conhecido como “Baiano”, o técnico levou o juniores do Bonsuça à quinta colocação no Estadual deste ano, à frente do Vasco da Gama. O anúncio foi aclamado pela torcida, em colunas (http://fanaticospelocesso.blogspot.com.br/2012/08/coluna-opiniao-e-historia-com-george.html) e comentários no blog e no facebook.

Dos mesmos comentários veiculados na internet, porém, se extrai o fato: o departamento de futebol do Bonsucesso, na verdade, foi entregue a um empresário, que doravante o gerenciará. A nova opção, radicalmente oposta à decisão imediatamente anterior de valorizar a "prata da casa" e as divisões de base, pode ser considerada por muitos como normal em clubes de menor investimento.

Triste o mundo em que o "normal" soa como sinônimo de correto.
Pois não é novidade nenhuma que, desde a profissionalização do futebol, leva vantagem quem tem mais. Só que disso, às vezes, deriva a conclusão de que o dinheiro pode resolver tudo. Nada além de lêdo engano.

Pode-se pensar que, quando se trata de MUITO, mas MUITO dinheiro, tudo pode ser resolvido. Na verdade, o que se tem é pagar para que resolvam, ou para que pareça ao dono do dinheiro que o resolveram. Falando de futebol, na segunda divisão do Carioca, seguramente estamos longe, bem longe dessas vultuosas cifras.

Mas não sabemos exatamente de quanto falamo$. E saberemos menos ainda agora, que tudo está entregue a respeitáveis terceiros que não almejam nada além de proveito mercantil com o clube. A técnica e a arte do esporte estarão submetidas à perspectiva de lucro do negócio. A camisa, a tradição e a honra serão consideradas na mesma medida. É disto que se trata: submeter-se à lógica do mercado.

"Pois não é esta a que governa o mundo?" Perguntarão, talvez, os mais esclarecidos. Esclarecidos, sim, no ledo engano do mundo. Pois, se hoje há uma sede na Av. Teixeira de Castro, 54, devemos dar graças às nove famílias que doaram seus terrenos para se fundar o primeiro estádio na Rua Uranos, no longínquo 1918, e que até hoje estão representadas pelas nove pontas da estrela no interior de nosso escudo. Estas, que não o fizeram por almejar nenhum lucro, muito pelo contrário.

Pois foram os moços dessa geração que venceram, em 1919, o primeiro Campeonato Suburbano de Futebol, título que até hoje o Leão luta por ver reconhecido - enquanto Botafogo e Fluminense dividem um quadrangular de 1907 em que um dos times abandonou o campeonato.

Se hoje não há promessa de glórias, ou posses, ainda há um teto na Teixeira de Castro, legado daqueles heróis da década de 10. Se hoje não há chance de jogar na Seleção, como foi para Leônidas e Gradim em 1932, ainda há uma camisa, uma história e uma torcida, ainda que pequena. Como já dizia Lênin, mais vale pouco, porém bom.

Que venha a Copa Rio. Que o espectro de Manga, do uruguaio Caballero, de Gibira, dos Chinas, Lumumbas, de Gonçalves e do Morais que fizeram os gols naquele jogo histórico contra o Flamengo em 1968 (o maracanazo rubro-anil), que o espectro de todos estes e de muitos outros ronde os corações e as mentes dos novos dirigentes e jogadores. E que esse espectro os contamine de sangue rubro e vontade anil por ver o Bonsuça nas cabeças. Eis o que nos resta, enquanto torcida, no estádio: torcer pela vitória do azul e grená.
Enquanto fora, é preciso e necessário contestar.

Fontes:

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3 comentários:

  1. Espetacular coluna! Vc despiu o "lobo da pele de cordeiro" ao tratar do lado empresarial no mundo do futebol. Abração.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Professor, muito obrigado pela leitura qualificadíssima.
    Pena que muita gente ache tudo isso bem normal...
    Abraços e até amanhã!

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