01/07/2012

"A CRÔNICA CRÍTICA DE UM RUBRO-ANIL" COM DÊRAUÊ.


 Os últimos serão os primeiros
(mas o quinto lugar não subirá)

Cajá é um distrito do município de Caldas Brandão, quase o meio do caminho das duas principais cidades da Paraíba - 60 km a oeste está Campina Grande; 75 para o leste, a capital João Pessoa.

1985: eleição indireta de Tancredo Neves, que não levou por veto do Departamento Médico. Os motivos de sua morte são tão controvertidos quanto o título do Campeonato Paraibano do mesmo ano. O Treze, time de futebol mais antigo da Rainha da Borborema, questionou na Justiça Comum a realização da competição. Resultado: enquanto os juízes determinaram a divisão do título entre o Galo e o Botafogo de João Pessoa, a Federação de Futebol até hoje não reconhece nenhum campeão.

Resultado: pergunte do sertão até Cajá, fim do agreste paraibano, e o campeão será o Treze. Dali pra Jampa, entra na Zona da Mata, litoral e o título passa ao alvinegro da estrela vermelha.

Vinte e sete anos depois, a história se repete num misto de farsa e tragédia. E, como se não bastasse, ao custo do atraso de um mês no início da Série C (a se iniciar na sexta, 29/6) e de três semanas para o pontapé da Série D do Brasileirão. Curioso é que os últimos na classificação geral foram os primeiros a correr, prejuízo à frente.

Quando a OAB do Ceará - Estado que possui quatro times na Terceirona (Fortaleza, Guarany de Sobral, Icasa e Horizonte) - ajuizou uma Ação Civil Pública pedindo a paralisação das séries A e B do Brasileiro, o calendário - e os orçamentos dos clubes das duas séries inferiores - já tinham uma defasagem de duas semanas. Em termos de grana, só os do Ceará, em 21/06/2012, somavam R$1,6 milhão (http://globoesporte.globo.com/ce/noticia/2012/06/sem-series-c-e-d-prejuizos-de-clubes-cearenses-ultrapassam-r-16-milhao.html).
Qual era mesmo o Estado da OAB?

“Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei; e, de preferência, burlada”

O regulamento do Campeonato Brasileiro da Série D previa, em sua edição de 2011, o ascenso de quatro equipes para a Série C. Tupi (MG), Santa Cruz (PE), Cuiabá (MT) e Oeste (SP) encabeçaram a classificação e, logo depois, havia o Treze da Paraíba.

Na série C, no entanto, nem tudo foram flores. O Rio Branco (AC) se envolveu numa briga de foice após o Ministério Público requerer - e conseguir - a interdição de seu estádio para a presença de público, acarretando punição por parte da CBF.

Recorrendo à Justiça Desportiva, o time do Acre chegou a ter suspensa a punição até o término da primeira fase, quando a sua exclusão foi confirmada. Partindo para a Justiça "comum", o time conseguiu a paralisação de parte da segunda fase da competição, mas um acordo envolvendo ainda a entidade então presidida por Ricardo Teixeira e o STJD reconhecia o exagero na dose e garantiria a permanência do clube acreano, desde que o mesmo desistisse do procedimento iniciado perante a justiça comum. Dito e feito.
Mas nem tanto. 

O Araguaína (TO), último colocado no grupo do Rio Branco durante a primeira fase - quando se deu a punição ao clube acreano, pleiteava manter-se na terceirona buscando no Judiciário a anulação do acordo entre o Estrelão - como é conhecido o time do extremo oeste do país - e a entidade (de segurança) máxima, visando sua permanência na divisão. O Treze da Paraíba, lembrando os tempos de Tancredo, embarcou na onda e também se achou no direito de pleitear a vaga que já não mais havia sido deixada pelo Rio Branco.

Como se não bastasse, o Brasil de Pelotas (RS) também recorreu à justiça comum para tentar reverter a punição sofrida pela escalação de jogadores irregulares na competição - o time perdeu seis pontos e, devido a isso, acabou rebaixado.

Pra formar o sururu, o Rio Branco resolveu entrar de novo na Justiça – acreana, lógico – exigindo da CBF o cumprimento do acordo firmado perante o STJD. 

Ajuizando suas demandas sempre "em casa", na prática os três clubes acabaram obtendo liminares para que fossem incluídos no campeonato deste ano. A resposta da Justiça Desportiva (STJD) foi a suspensão das séries C e D, que já tinham tabela divulgada com antecedência, na forma do Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003).

Enquanto os presidentes das federações paraibana, tocantinense e gaúcha esperavam o retorno do ora (?) todo-poderoso José Maria Marin de uma viagem à Disneylândia com direito a ver três jogos dum time que lembra uma seleção brasileira de futebol; diversos jogadores se desligavam de vários dos sessenta clubes que participam das duas divisões, seja por cortes de orçamento ou propostas externas. A angústia e as dívidas aumentavam, indefinição persitia.

Os dirigentes, então, conseguiram a desculpa para visitar Copacabana e, de quebra, participar de um rega-bofe na sede da Confederação quando Marin finalmente voltou da Flórida. Aproveitaram ainda a oportunidade alguns políticos como o senador paraibano Vital do Rego Filho, que é torcedor do Campinense - e aí param as coincidências com meu irmão, é preciso dizer.

Após a reunião, e mais algumas conversas, a pressão da CBF através da lembrança aos clubes de que a FIFA odeia qualquer tipo de controle externo levou Rio Branco, Araguaína e Brasil de Pelotas a desistirem das ações judiciais através de uma acordo com a CBF e a Justiça Desportiva. O primeiro permaneceria na série C, e os demais disputariam a D.
Com isso, o STJD liberou a quarta divisão, que começou no fim de semana de São João, o santo mais festejado do Nordeste, em todas as noites de 23 de julho, dois dias depois do dia em que a terra fica mais longe do sol, quando costuma começar o inverno.

Faltou, no entanto, acertar com o alvinegro algarísmico, que não tinha mais chances de jogar a série D novamente este ano, ao contrário dos demais envolvidos (o galo ficou em terceiro no Paraibano). Ora, havia um papel assinado pela juíza da 1a Vara Cível de Campina Grande dizendo:"- O Treze Futebol Clube foi o quinto colocado do Campeonato Brasileiro da Série D, versão 2011, e como consequência, é legitimado a ser contemplado, a título de ascensão, a vaga deixada pelo Rio Branco do Acre." Do mesmo modo, porém, o Rio Branco tinha outro papel em que algo parecido também estava escrito, porém a favor do Estrelão. O time do Acre, no entanto, resolveu acreditar nas palavras do Zé das Medalhas.

E, assim, diante do fato de que três juízos proferiram três decisões obrigando a CBF a fazer três coisas completamente incompatíveis entre si, a Entidade pôde então "escolher" uma - a que, aliás, parece a mais sensata. Afinal, o Rio Branco se manteve na série C ano passado - já que sua punição foi revogada por acordo - e o regulamento das competições previa que apenas quatro clubes ascenderiam na D. Antes de pensar como viável a "letra" do Treze, é preciso lembrar que, caso o Rio Branco fosse excluído da competição, mais lógico seria o Araguaína herdar sua vaga, uma vez que a equipe acreana passaria a último do seu grupo, salvando os tocantinenses do rebaixamento.

No domingo (31/7), o Madureira receberá o Brasil de Pelotas às 15h na Conselheiro Galvão, caso o STJD não suspenda o time do sul pelas "aventuras" na Justiça "comum". Já sábado (30/7), é dia de jogo para o Rio Branco, que jogará em casa contra o Salgueiro de Pernambuco. Enquanto isso, a torcida do galo da Borborema terá precisado torcer na sexta-feira (29/6) para que a equipe não saia do banco – dos réus, perante o STJD – punida e acabe deixando de participar da Copa Paraíba de 2012, a começar apenas em setembro.

O Bonsucesso vai jogar um mês antes, na Copa Rio, como sabem (http://estopim.net/y7/?p=1627).
***
O Friburgunse estreou com vitória fora de casa na Série D, sobre o Guarani de Minas, por placar simples. Já o Volta Redonda, que somente confirmou sua participação no último dia 22, após a desistência do Resende, fará sua primeira partida contra o tricolor serrano, em partida válida pela segunda rodada da peleja. A Federação de Futebol do Rio de Janeiro tem direito a dois representantes na Série D, pelo fato de estar entre as nove melhores no ranking da CBF (http://www.cbf.com.br/media/346814/of%20dco-ger%20306.11%20de%2014.12.11%20-%20rnc%202012%20%28errata%29.pdf). 

Além destes, ainda participam do Brasileirão os quatro assim chamados “grandes” na primeira divisão e ainda Duque de Caxias, Macaé e Madureira na série C. Nenhum time do Rio joga, atualmente, na segundona.

Único time da Paraíba que já jogou a segunda divisão nacional, o Campinense (http://www.campinenseclube.net/) possui torcedores ilustres como o Senador Vital Filho, e o não menos conhecido José Laurentino Neto, também chamado de meu irmão. O rubro-negro da Bela Vista começou perdendo, mas virou bonito e definiu o placar no 2 a 1 contra o Petrolina-PE, num Amigão de público bom para um jogo adiado por um mês que foi parar no domingo depois da noite de São João. 

O destaque da partida, infelizmente, foi a arbitragem, que prejudicou todos os lados: dos times à torcida, que teve de acender isqueiros e luzes de celular para compensar a torre de refletores que permaneceu apagada boa parte do segundo tempo, devido ao risco de sobrecarga e pane no sistema de todo o estádio. A bem da verdade, o juiz paralisou por duas vezes a partida e consultou os capitães quanto às condições de jogo, e estes aquiesceram.
E ainda pode ter gente dizendo que eu não falei de futebol.




4 comentários:

  1. Espetacular matéria. Tudo que vc escreveu é resultado de regulamentos mal elaborados, fórmulas malucas de classificação, acordos de portas fechadas e um festival de besteiras administrativas executadas pelos dirigentes associadas a lerdeza da justiça ou a intervenção desta onde não devia. Abção a todos.

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  2. RONALDO FANATICO ATRÁS DO GOL7/02/2012

    Dêrauê muito boa esta materia agora vem a minha cabeça que a sacanagem não é só no Rio de Janeiro não acontece em todo o Brasil E devido a termos uma corja de safados no futebol a coisa existe escrevo isto pois nosso clube sentiu na pele pois não queriao que nosso clube subisse exemplo disto ainda na segundona interditarão nosso campo e tivemos que jogar algums jogos ou com o campo fechado ou em outro estádio sem nossa torcida .

    como eramos indesejaveis na serie A do carioca não achavao que nosso clube com muita luta conseguiria subir e conseguimos mais no ano da subida de novo a sacanagem reina e não deixarao nosso clube jogar em seu campo e acabamos rebaixados uma injustiça e sacanagem que fizerao conosco .

    se o orgao responsavel pela organização fosse sério e competente nada disto teria acontecido mais e bom para aprendermos com nossos propios erros pois não existe esta de clube co-irmão , parceiro é tudo um jogo politico e cada um por si .


    galera, sera que nosso campo esta pronto para podermos usar na segundona e não haver intervençoes como as anteriores ?

    deixo meu recado !

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  3. Valeu pela leitura, gente! Ronaldo, precisamos combater os desmandos da Federação. Precisamos também descobrir como fazer isso de maneira eficaz. Eu não acredito que tentar

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  4. qualquer acordo de portas fechadas, como bem falou o prof. George, resolva a situação. Precisamos lutar por transparência. Abraços a todos!

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